GONDRAMAZ, ALDEIA DE XISTO

O cimo da aldeia.
Num artigo anterior deste blog, com o título “Aldeias abandonadas na serra da Lousã”, escrevi sobre o Cadaval, uma pequena aldeia situada na vertente oeste de uma das muitas montanhas da serra. Para essa aldeia, cujas casas se encontram na sua maioria completamente arruinadas, existem projetos de recuperação que se forem concretizados poderão fazer renascer a aldeia, trazendo vida aquela zona da serra, tal como acontece não muito longe dali, a apenas pouco mais de um quilómetro de distância, na aldeia do Gondramaz, povoação que sendo vizinha do Cadaval e pertencendo ao mesmo concelho, a configuração do relevo montanhoso do local faz com que se encontrem bastante afastadas fisicamente, pois o Gondramaz situa-se numa encosta voltada para o lado oposto e de onde se avista uma linha de cumeada de outra montanha onde se alinham várias torres eólicas, que fazem parte do primeiro parque que foi instalado na serra: o parque eólico de Vila Nova.


Rua principal da aldeia.
O Gondramaz é hoje uma aldeia quase totalmente recuperada, que faz parte da rede de Aldeias do Xisto. A aposta no turismo de montanha é uma das justificações para a sua recuperação e, de facto, esta aldeia, com a sua rua principal que se projeta em descida titubeante pela encosta, rodeada por casas de xisto, onde desembocam alguns arruamentos laterais, com os edifícios ostentando nas esquinas informações engraçados, escritas em lajes de xisto e com o ar puro e o ambiente serrano que a envolvem, faz qualquer visitante sentir-se ali bem.

Ao fundo da rua principal, a rua Budas, há um restaurante com uma pequena esplanada e vista para a montanha, onde as turbinas das enormes torres eólicas rodam, movidas pela brisa constante que ali sopra. Parecem gigantes na paisagem a inspirar um novo Cervantes para a criação de um D. Quixote dos tempos modernos. Escuta-se o barulho caraterístico das pás cortando o ar, talvez, durante a maior parte do dia, o único ruído perceptível naquelas paragens.


Esculturas do Gondramaz, num terraço.
Esta aldeia está ligada à arte da escultura, desde que um dia um habitante da aldeia, Carlos Rodrigues, que teve diversos ofícios ao longo de toda a sua vida, desde trabalhar no Porto de Lisboa a plantar árvores descobriu, aos 50 anos, a sua habilidade para trabalhar a pedra. O artesanato surgiu na sua vida na consequência directa de problemas relacionados com a sua saúde. Assim, como se encontrava doente e necessitava de ocupar os seus tempos livres, começou por esculpir um busto na pedra xistosa que abunda na região, a qual tem uma consistência suave que lhe permite ser esculpida. Apreciou bastante o trabalho e sentiu-se estimulado para lhe dar continuidade, aperfeiçoando diariamente a sua técnica.

Carlos Rodrigues faleceu em Agosto de 2010, depois de ter passado cerca de 30 anos a esculpir pedras de xisto na aldeia. Estima-se que tenha esculpido milhares de imagens, que estão espalhadas por esse mundo fora. Carlos arrancava as pedras nas encostas da serra e as transformava em pequenas estátuas. Das suas mãos saíam com originalidade e sentir simples, imagens da Rainha Santa, Senhora da Piedade, São Pedro e até Adão e Eva. Eram principalmente os turistas estrangeiros que se deslocavam à aldeia serrana do Gondramaz, que mais admiravam as suas obras.

Loja de artesanato.
Mas, a arte da escultura não acabou no Gondramaz. Ali existe uma loja de artesanato onde o escultor Manuel Rosa Rodrigues tem um pequeno atelier onde, aos fins-de-semana, pode ser visto a trabalhar nas suas estátuas.   

Manuel aprendeu a arte observando o artesão Carlos Rodrigues. Via-o a cortar a pedra e a esculpir as suas imagens e isso incentivou-o a tentar a sua sorte na atividade. Inicialmente trabalhava a pedra transformando-a, principalmente, em utensílios domésticos, como são exemplo as pias para os animais se alimentarem e beberem água. Mais tarde, ao observar os vários tipos de pedra que encontrava pelas serranias, começou a idealizar imagens e a esculpi-las.

Ao redor da aldeia foi construído o percurso pedestre “Caminho do Xisto Acessível do Gondramaz” especialmente pensado para ser utilizado por pessoas portadoras de incapacidade.

Este caminho foi projectado tendo em vista a máxima acessibilidade, permitindo a sua utilização por pessoas portadoras de incapacidade.

Percurso pedestre ao redor da aldeia.
Para se atingir esse grau de acessibilidade, foram utilizadas algumas soluções técnicas ao nível do pavimento, da sinalética e dos equipamentos, conciliando no entanto estes aspectos com as normas de homologação pela Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal.

Possui também um pavimento sensorial, possibilitando através da diferença de texturas, orientar as pessoas invisuais, tornando assim possível a sua utilização de uma forma autónoma.

O traçado deste Caminho do Xisto possibilita aos seus utilizadores desfrutar da envolvente natural do Gondramaz, marcada por uma frondosa mancha de castanheiros e carvalhos, observando a aldeia de um plano superior, para depois se poderem embrenhar pelas ruas, tendo aí um contato mais próximo com a aldeia.




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