Máquina de fazer púcaras de barro. Tem em falta a alavanca que acionava o molde superior |
Há falta de trabalho, no país. Esta é a verdade,
indesmentível e cruel, que atormenta os milhares de desempregados que em vão
procuram uma ocupação digna que lhes assegure o sustento.
Mas nem sempre foi assim. Ainda me lembro de quando, há cinco
décadas atrás, havia trabalho para todos, até para as crianças que deveriam
estar na Escola, mas que por necessidade a deixavam e iam trabalhar nas imensas
pequenas indústrias que existiam um pouco por toda a parte. Ganhava-se pouco,
as condições de trabalho eram muito duras, mas quando se perdia um emprego por
qualquer motivo, logo no dia seguinte se conseguia um novo trabalho.
Entre as pequenas indústrias então existentes, as fábricas de
cerâmica de barro vermelho eram aos milhares e não tinham mãos a medir para
produzir não só tijolos e telhas para a construção de habitações, mas também
púcaros para receber a resina dos pinheiros. A indústria da resina também, na
época, empregava muita gente e Portugal chegou a ser o 2º maior exportador de
resina do mundo, até há três décadas atrás, altura em que a concorrência da
China e do Brasil, começou a provocar o abandono da atividade.
Hoje, Portugal é, não o 2º exportador dessa matéria, mas, por
ironia, o 2º maior importador, embora haja alguma tendência para inverter essa
situação, porque, devido há falta de trabalho nas zonas rurais (como em todas as outras), muitos estão
a tentar na extração de resina uma oportunidade de escapar ao desemprego.
Infelizmente, por muita resina que volte a ser extraída dos
pinheiros, as fábricas de púcaros de barro, não vão ressuscitar, porque há
muito que o barro foi substituído pelo plástico, nessa atividade. Primeiro, eram
os púcaros ou tigelas feitos em matéria plástica onde era recolhida a resina, passando
mais tarde essa recolha a ser feita simplesmente em sacas. É capaz de ser mais
prático uma vez que os sacos de plástico não são despejados para aproveitar,
como acontecia com os púcaros, mas no que respeita a postos de trabalho, não
vejo que a industria do plástico dê emprego a tanta gente como dava a cerâmica.
Púcara de barro. |
Enfim… é o progresso, mas será que esse progresso contribui assim
tanto para a felicidade das pessoas?... Em nome da produtividade inventam-se
máquinas para fazer quase tudo, máquinas que quase dispensam a intervenção
humana e assim dificilmente vai alguma vez voltar a haver trabalho em
abundância.
Bem… os púcaros para a resina também eram feitos com uma máquina.
Cheguei a operar uma máquina destas que era manobrada de forma manual. Tinha
um molde fixo, com o fundo móvel, que era um recipiente com o feitio do púcaro, onde era colocada
uma bola de barro, previamente amassada; o operador accionava a alavanca da
parte superior do molde que caía em cima da bola de barro com alguma violência e
assim se formava o púcaro. Depois, com o pedal levantava o fundo do molde inferior,
trazendo a púcara para cima. Por vezes a peça de barro vinha agarrada ao molde
de cima, que também pode chamar-se de macho, obrigando a desenformar a púcara
manualmente, o que dificultava o trabalho. A cada peça produzida os moldes eram,
obrigatoriamente, untados por uma segunda pessoa que utilizava um trapo
embebido em gasóleo, com a finalidade de facilitar a desenforma. Estas operações
eram feitas com muita rapidez para que houvesse boa produtividade.
A madeira de um pinheiro não resinado era mais cara!
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