Esta foto mostra mostra a aplicação de hidrofugante na parte que estava mais danificada. |
Trinta e seis anos após a construção, decidi que estava na altura de fazer a restauração do telhado da minha casa. É um telhado de duas águas, sendo que o cume está no sentido poente/nascente, ficando uma parte do telhado virada a norte e a outra, como é lógico, a sul.
A parte mais danificada. |
É um telhado com uma inclinação bastante acentuada e a parte virada a norte sofre muito mais com as inclemências do tempo do que a parte sul. No inverno as temperaturas negativas são muito frequentes, as geadas também e o sol nessa altura do ano praticamente não incide sobre as telhas. Devido a isso essa parte do telhado estava bastante danificada, apresentando muitas telhas lascadas ou seja, telhas de onde se tinham soltado pedaços, muito provavelmente por causa do gelo. É verdade que a qualidade do material também não seria a melhor, mas a causa principal da degradação das telhas foi o gelo, uma vez que a parte virada a sul não apresentava esse tipo de problema. Inicialmente pensei em substituir as telhas de barro por painéis sandwich, daqueles painéis que tentam fazer a imitação da telhas lusa, mas depois de ponderar bem decidi não o fazer, visto que os painéis sandwich são de preço bastante elevado e, como são um tipo de cobertura recente, não existem dados nem provas concretas de que esse tipo de material seja de duração igual ou superior ao das telhas de barro, mesmo das telhas de custo mais reduzido.
A parte virada a sul estava um pouco melhor... |
Mas a aparência dos telhados de painéis sandwich também não me convenceu muito. Uma imitação é sempre uma imitação e os telhados construídos com telha verdadeira têm um outro aspeto, já para não falar que em certas regiões esse tipo de cobertura não é autorizado, ou é muito mal visto pelas autoridades locais.
É certo que a cobertura sandwich tem a vantagem de já possuir isolamento térmico e, no caso de telhados antigos como o meu, cuja estrutura é feita com vigamento de madeira e sem isolamento, a cobertura com painéis é bastante tentadora, mas o preço acabou por falar mais alto e ser o principal motivo da minha resistência a essa tentação.
Mas existiu um outro motivo importante… eu sempre fiz todo o trabalho de construção da minha casa desde o início e quero, enquanto puder, continuar a fazê-lo. Eu não conseguiria fazer a aplicação desses painéis sem ajuda. Teria que pagar a alguém para fazer a sua instalação o que, para além do custo elevado desse trabalho, me privaria do prazer de fazer o trabalho por mim próprio e de poupar assim algum dinheiro.
Sendo assim, decidi meter mãos à obra e fazer a restauração aplicando telhas novas na cumeeira e também na parte do telhado mais danificada e, na outra parte substituir apenas as que se encontravam em pior estado, fazendo uma lavagem nas restantes.
Colocação das telhas de cume. |
Não se tratou de uma mera substituição de telhas. O vigamento do telhado estava vergado com peso das telhas e foi necessário levantar e calçar o ripado de modo a que o suporte ficasse nivelado. Os barrotes eram de eucalipto não serrado e tinham sido aplicados ainda verdes e com casca. Foram dois erros da construção inicial, mais o facto de serem colocados com casca do que serem verdes, pois a casca origina um albergue para o bicho da madeira e isso é um mal que deve ser evitado a todo o custo. Se já estivessem secos talvez não vergassem tanto, mas isso poderia ter sido evitado com um melhor escoramento.
Aplicação de óleo queimado na madeira. |
De qualquer modo, os barrotes ainda estavam em bom estado e capazes de aguentarem ainda mais tempo do que as próprias telhas novas que iam ser aplicadas. Na altura da construção da casa não houvera tempo para descascar os eucaliptos, mas agora aproveitei para o fazer o melhor possível se bem que não fosse um trabalho fácil com as ripas já pregadas. Uma vez que estava a corrigir alguns erros do passado e a fazer o que considerava uma boa restauração, fiz a pintura dos barrotes e das ripas com óleo queimado para proteção da madeira, um material de proteção que fica a custo zero, mas com provas dadas de que tem alguma eficiência.
Ainda, seguindo a lógica de correção de alguns erros, coloquei uma escora em cada barrote, numa parte em que o vão era um pouco maior e onde os barrotes estavam mais vergados, embora acredite que agora isso já não seria muito necessário, porque os barrotes provavelmente não iriam vergar mais do que já estavam. De qualquer modo depois de todo o trabalho que tive com esta restauração resolvi jogar pelo seguro…
Lavagem das telhas. |
Como já disse tinha decidido aplicar telhas novas apenas numa parte do telhado, fazendo a lavagem da outra parte. Nessa parte substituí apenas algumas telhas, pensando que poderia fazer uma retificação do vigamento por debaixo do telhado, sem retirar as telhas, poupando assim dinheiro e trabalho. Foi isso que fiz, mas não tardei em verificar que cometi mais um erro (afinal cometemos erros em qualquer idade) ao não substituir todas as telhas. No final da restauração do telhado cheguei à conclusão de que não vale a pena estar a lavar telhas já com mais de uma dezena de anos de uso. Com um pouco mais de trabalho teria um telhado completamente novo e, como não pagava mão-de-obra, os custos seriam pouco mais, atendendo a que para fazer a lavagem é necessário comprar produtos de limpeza, que não são baratos, gastar água e eletricidade, para além da máquina de pressão que é necessário possuir ou então terá que se comprar ou pedir emprestada, o que nem sempre é viável, acrescendo a tudo isto que lavar telhados com muita inclinação é um trabalho arriscado e que os preços das telhas não são muito elevados.
A parte do telhado onde as telhas foram lavadas. |
Para finalizar o trabalho apliquei hidrofugante em todo o telhado, servindo-me de um pulverizador normalmente usado na agricultura. Este produto tem o condão de impedir que as telhas absorvam a água da chuva e deverá retardar o aparecimento do verdete e do negrume causado pela humidade, sendo de supor também que as telhas tenham uma maior duração. No entanto a aplicação deste produto não é consensual e há quem preconize que o seu uso é prejudicial porque, mesmo com o hidrofugante, as telhas absorvem alguma água e o produto impede que as telhas respirem pela parte de cima podendo provocar danos e o envelhecimento prematuro do telhado.
Para finalizar o trabalho coloquei uma placa na cumeeira, com a indicação do ano de construção da casa. |
Não sei se esta última tese tem alguma razão de ser. Poderá ser que sim, mas o certo é que já verifiquei que as telhas ficaram completamente impermeáveis o que me faz parecer um pouco irrealista a ideia de que as telhas não respiram, uma vez que o hidrofugante apenas foi aplicado na parte de cimas das telhas e mesmo que alguma humidade penetre no seu interior, elas estão por baixo completamente desafogadas e com grande espaço para respirarem. No entanto é de considerar que o hidrofugante aplicado não deverá ser eterno, e que poderá começar a perder eficácia a curto ou médio prazo, desconhecendo por enquanto as consequências que a perda de eficácia poderá provocar. Por isso, pode não ser muito aconselhável o seu uso, tendo em conta o seu preço alto e a incerteza quanto à duração temporal dos seus benefícios.
Este é o quarto artigo que escrevo sobre “construir a própria casa”. Como também já referi nos artigos anteriores, estes escritos não são para ensinar ninguém a fazer uma casa, mas apenas para ajudar ou, porque não, até para incentivar aqueles leitores que, tal como eu, fazem do dia-a-dia uma luta diária pela sobrevivência e, por isso, todos os cêntimos contam... Ler mais
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