Toda a história da construção de uma bomba de corda


A finalidade principal deste artigo é o de dar a conhecer todos os pormenores da construção das minhas bombas de corda e dizer, a quem estiver interessado num projeto deste tipo, que uma bomba de corda tocada a vento tem muitas probabilidades de não resultar ou do seu rendimento ser praticamente nulo. Ao contrário, uma bomba de corda movimentada por uma manivela ou a pedal pode ser muito bem sucedida... por isso digo que é melhor esquecer o vento e optar por uma bomba manual, se não se importar de praticar um pouco de exercício físico, o que lhe trará muitas vantagens, mas atenção que as minhas bombas de corda são bastante invulgares e o artigo é longo, no entanto a sua leitura pode ser-lhe bastante útil. É isso que espero... 

Foi só depois de ter feito algumas pesquisas na Internet sobre instrumentos antigos de elevação de água, que tomei conhecimento de uma bomba de fabrico mais ou menos artesanal e que é muito popular na América, em África e também na Ásia. Na Europa, e sobretudo em Portugal, penso que não é muito utilizada ou sequer conhecida; eu pelo menos nunca tinha ouvido falar desse instrumento, até que um dia o encontrei durante as minhas pesquisas e fiquei fascinado pela sua aparente eficiência e facilidade de construção, tendo eu próprio resolvido iniciar uma nova aventura lançando-me na construção de uma dessas bombas…

O instrumento de que estou a falar é chamado de bomba de corda, pois ele eleva a água por meio de uma corda onde são colocados várias peças circulares, normalmente de borracha, mas também de outros materiais. Essa corda circula dentro de um tubo com um diâmetro aproximado de 32 mm e faz subir a água com a ajuda dos tais círculos de borracha que são impedidos de deslizar graças aos nós que se dão na corda, junto às rodinhas de borracha ou pistões, como também são designadas essas peças.
Esses nós na corda fazem lembrar um rosário e por isso o instrumento também é conhecido por “bomba rosário”, mas o que mais espanta nessa bomba é a sua rudimentaridade, pois a sua construção é em grande parte feita com materiais de sucatas e onde velhas bicicletas ou pelo menos uma roda de bicicleta é uma peça omnipresente. Não obstante essa rudimentaridade a bomba consegue elevar a água de profundidades consideráveis (fala-se em 35 a 40 metros) e não sendo necessário um esforço desmesurado.

Antes de iniciar a construção da minha bomba de corda fiz várias pesquisas, tendo assistido a vídeos incríveis onde se viam bombas construídas das mais diversas formas e com vários materiais. Eram movidas a pedal, à manivela, a vento, a motor, mas todas elas com o mesmo utensílio de base: a corda. Todas elas pareciam funcionar na perfeição, trazendo bastante água para cima e a aparente facilidade de construção e baixo custo desses projetos, parecia convidar à sua construção.

Depois de muito matutar, decidi tentar fazer uma bomba para elevar e transportar a água de um pequeno poço da minha chácara, para um depósito colocado em cima de um telhado. Desse modo poderia fazer algumas regas por gravidade, sem necessidade de consumir qualquer combustível. A bomba funcionaria movida por uma turbina eólica de eixo vertical que seria montada na torre onde estava instalado um cata-vento.

Depois de iniciar os trabalhos depressa cheguei à conclusão que afinal a tarefa não era assim tão fácil. Sendo certo que o princípio das bombas de corda (elevar a água com uma corda através de um tubo) não pode ser alterado, a forma de fazer o trabalho tem que atender às necessidades do construtor e a diversos fatores específicos de cada um. À medida que o trabalho ia avançando iam surgindo novas ideias e o projeto foi várias vezes modificado. Uma dessas alterações e a mais importante é que decidi que a bomba não podia ser construída para ser movida exclusivamente a vento, pois se o fizesse arriscava-me a ter de modificá-la mais tarde ou então a enfrentar um possível fracasso, porque para além de não ter a certeza de que a turbina eólica conseguisse fazer rodar a corda, poderiam não existir períodos de vento no verão suficientes para as necessidades de água nessa estação do ano.

Por esse motivo resolvi fazer uma bomba de tração mista manual/eólica, ou seja: quando não houvesse vento a bomba funcionaria de forma manual, mas a prioridade era para tentar fazer funcionar o instrumento através do vento.

A bomba de corda que tentei construir fugia um bocado dos padrões mais tradicionais de utilização deste instrumento. Neste caso, não se tratava propriamente de elevar a água de um poço até à superfície, mas de a fazer subir até uma altura de quatro metros e de a transportar para um depósito. O poço também não é vulgar, pois trata-se de um reservatório de água da chuva com apenas metro e meio de profundidade e para o qual transitam as águas dos outros reservatórios da chácara. De qualquer modo, a bomba teria de elevar a água cerca de cinco metros, o que significa que o seu trabalho não andaria muito longe do esforço feito por muitas destas bombas instaladas em poços e que sugam a água apenas até à superfície.

Num projeto artesanal deste tipo, como em muitos outros, as opiniões sobre a sua construção e os materiais a utilizar nunca são totalmente consensuais, o que pode fazer suscitar algumas dúvidas que só a experiência adquirida com o trabalho prático poderia dissipar. Um exemplo dessa variedade de opiniões tem a ver com as rodinhas de borracha ou os pequenos pistões que circulam dentro do tubo. Essas peças minúsculas são de extrema importância para o funcionamento da bomba e, para o seu fabrico, são apontados os mais diversos materiais como borracha de câmaras-de-ar, tampas de garrafas, vedantes utilizados nos parafusos de fixação de telhas, sola ou borracha de sapatos e chinelos, etc. Alguns fabricantes dizem que os círculos de borracha devem ultrapassar um pouco o diâmetro interno do tubo para evitar fugas de água durante a subida, o que parece ter alguma lógica, mas que só funcionará se as borrachas forem muito finas. Assim a prática vem de algum modo dar razão a outros que dizem que deve existir uma pequena folga para diminuir o atrito. Foi isto que aconteceu comigo, pois comecei por deixar os círculos de borracha maiores que o diâmetro do tubo, mas depressa verifiquei que o atrito provocado, devido ao roçar no tubo, fazia com que a corda ficasse muito pesada, dificultando o seu funcionamento, tendo sido obrigado a cortar um pouco as borrachas. Ainda sobre os círculos de borracha não existe uma opinião generalizada sobra a distância a que devem ficar entre si, na corda; já li ou ouvi que devem ficar a 40 ou 50 cm, mas também há quem diga que a distância ideal é entre um metro e metro e meio. Na minha opinião quanto mais vastas ficarem melhor, mas sem exagerar porque se ficarem muito perto umas das outras causam mais transtorno na passagem pelas roldanas. Na minha bomba optei por colocá-las a 50 cm, com um nó de cada lado.

Os pistões são apenas um exemplo da variedade de opiniões que existem para fazer o instrumento; as opções são muitas e a prática é que irá dizer quais são as melhores. Existem muitas outras coisas na bomba de corda que são passíveis de opções muito diversas, como a roldana que fica submersa na água onde a corda faz a volta para entrar no tubo de subida, o tipo de corda a utilizar, as roldanas, etc.

Enfim, a minha bomba de corda ainda mesmo não sendo um projeto totalmente original, tem algumas coisas que acho que são inéditas o que tornou a sua construção ainda mais apaixonante.

Os primeiros testes da turbina eólica deram para verificar que o sistema tinha alguma viabilidade, no entanto, como no local o vento não é muito abundante, resolvi, para aumentar o rendimento da máquina, separar a parte do funcionamento eólico da parte de funcionamento manual, construindo uma nova bomba que ficou ao lado da já existente. O tubo desta nova bomba (a eólica) é de diâmetro mais reduzido e com os pistões de borracha colocados na corda a espaços mais curtos e confecionados de modo a impedir fugas de água para baixo para que, mesmo a baixas rotações, seja bombeada alguma água e que, em curtas paragens da turbina, a água fique retida pelos pistões, no tubo.

A bomba, funcionando a pedal, roda a rotações mais elevadas e mais regulares pelo que o problema da permeabilidade dos pistões não se nota tanto, mas para funcionar através do vento é necessário fazer esse ajuste. Convém também que a corda circule no tubo e em todo o sistema com o mínimo atrito possível, para que a turbina gire com ventos fracos. Por esse motivo o tubo é também mais estreito para que exista menos peso de água no interior deste.

O principio de alguma desilusão…
Este projeto “Bomba de corda eólica” foi das engenhocas mais complicadas que fiz até agora. As dificuldades não foram só motivadas pela complexidade do trabalho, mas também porque não acertei logo de início na melhor forma de o fazer. Construí primeiro uma turbina de eixo vertical, para evitar a complicação de transformar a rotação vertical móvel em rotação horizontal fixa, de um cata vento de eixo horizontal, pois as turbinas que rodam num eixo horizontal têm forçosamente que ter uma segunda parte móvel, de forma a poderem girar em torno de um eixo vertical, procurando a direção do vento para que as pás da turbina estejam sempre de frente para este. Esta tarefa parecia-me tecnicamente bastante difícil, tendo por isso partido para a construção da turbina de eixo vertical.

O certo é que a turbina de eixo vertical funcionou e elevou a água através da bomba de corda, mas para que tivesse força suficiente tive que lhe acoplar umas pás de grande dimensão e, mesmo assim, necessitava de ventos fortes para produzir trabalho que se visse. Não estava satisfeito, tendo chegado à conclusão que a turbina vertical não tinha velocidade de giro suficiente para que a bomba de corda elevasse água em condições de vento normais. Verifiquei também que o projeto, tal como o tinha idealizado inicialmente: uma única bomba de corda que poderia alternar entre a movimentação através de uma bicicleta ou do vento, se tornava pouco prático, uma vez que para isso teria de montar uma roldana na torre que funcionasse independente da roldana da turbina eólica. Para isso a corda da bomba a pedal tinha que circular em volta da torre eólica, o que era desnecessário se funcionasse só movida através da bicicleta a pedal.

Por esse motivo resolvi construir uma segunda bomba de corda para ficar ligada apenas à turbina eólica e com um tubo de elevação mais estreito, para que o peso da água não fosse tanto e a bomba pudesse funcionar com ventos mais fracos. Mesmo assim, não fiquei satisfeito com o resultado e, depois de tanto trabalho, não me quis dar por vencido, embora a tentação de desistir do projeto eólico fosse grande.

Mudança de planos

Afinal, todo o trabalho que tive com a construção da turbina vertical, não deu o resultado esperado. Foi uma opção errada, até porque tive a solução sempre ali à mão, só que eu não a tinha conseguido ver ainda; essa solução estava no cata vento que já estava instalado na torre… Já tinha antes pensado na hipótese de transformar esse cata-vento em motor de uma bomba eólica, mas essa tarefa sempre me parecera impossível, até porque a torre estava afastada cerca de três metros do poço e aquele cata-vento era apenas para decorar o ambiente.

Depois de muito matutar consegui desenhar um plano para transmitir a rotação vertical e móvel da turbina para uma roda horizontal fixa e assim fazer girar a corda da bomba e elevar água. Recorri a dois aros de roda de bicicleta, um para acoplar à turbina e o outro para a roda onde funciona a roldana que faz girar a corda. Nestes aros coloquei, nos furos dos raios, parafusos de 6 mm de diâmetro que foram depois revestidos com bocados de tubo de borracha, para diminuir o atrito. A roda aplicada na turbina faz rodar a roda horizontal e gira livremente ao seu redor, podendo o cata vento procurar a direção do vento sem complicações na engrenagem. A velocidade desta turbina supera em muito as rotações da turbina de eixo vertical e até com ventos fracos é possível elevar alguma água.

Normalmente os cata-ventos de eixo horizontal têm duas partes móveis: A roda ou turbina gira em torno de um eixo horizontal e tem que também circular lateralmente sobre um eixo vertical de modo a que possa estar sempre de frente para o vento. Assim é possível obter o máximo rendimento da turbina, independentemente da direção do vento. É isto que torna complicado utilizar um cata-vento para bombear água através de uma bomba de corda. Com um cata-vento de eixo vertical esse problema não se coloca, mas a velocidade e força da turbina são muito menores e isso foi a justificação que encontrei para entrar na aventura de construir umas engrenagens para conseguir uma transmissão que permitisse que o cata-vento de eixo horizontal rodasse lateralmente mantendo a roda que faz a transmissão fixa. Tomei essa decisão depois de ter feito algumas experiências com um cata-vento de eixo vertical, que funcionou muito bem durante algum tempo. O grande problema é que eram precisos ventos muito fortes para que a turbina atingisse velocidade suficiente para elevar alguma água.

Se não fosse a necessidade de fazer o cata-vento rodar lateralmente era muito mais fácil a construção de um engenho destes, mais fácil até do que fazer um cata-vento de eixo vertical.

Baseei-me nas antigas noras de tirar água de poços onde também existia uma mudança de sentido de transmissão, sendo que nesse caso a transmissão era mudada ao contrário. Ou seja, nas noras a transmissão passa de horizontal para vertical. O sistema de funcionamento é o mesmo, mas as engrenagens que fiz não têm nada a ver com a das noras em termos de resistência, mas comparativamente ao esforço exigido acho que estão mais ou menos proporcionais. As noras trabalhavam mais lentamente, mas elevavam um grande peso de água, enquanto que o catavento roda mais rápido mas a quantidade de água que eleva é muito menor.

Alterações nas engrenagens

Como já disse, comecei por utilizar dois aros de bicicleta do mesmo tamanho, aplicando-lhes parafusos nos furos que antes serviam para os raios. A cabeça desses parafusos encaixou na concavidade interior do aro e depois foram apertados com porcas na parte exterior. Prevendo que a rosca dos parafusos iria ser um obstáculo no funcionamento do sistema, estes foram revestidos com pedaços de tubo de cristal, daqueles tubos que são muito utilizados pelos pedreiros para tirar níveis de água. Esses tubos foram colados aos parafusos e o sistema funcionou assim muito bem, até que comecei a notar algum desgaste no revestimento, desgaste que, se nada fosse feito, depressa atingiria os próprios parafusos.

Como gosto de encontrar soluções para os problemas que vão surgindo, lembrei-me de enfiar pedaços de tubos de ferro nos parafusos. Mas esses tubos não iriam ficar fixos e rodariam em volta dos parafusos, pensando que assim o desgaste seria muito mais lento e até existiria menos atrito no contacto entre as peças das duas rodas.

Na verdade não enfiei um pedaço de tubo, mas sim dois em cada parafuso. Um, mais fino entrou apertado e ficou fixo ao parafuso e o outro de maior diâmetro ficou a rodear, com alguma folga o tubo interior. As peças foram lubrificadas com massa consistente e, na ponta dos parafusos apertei uma porca com uma anilha contra o tubo interior de modo a impedir que os tubos se desencaixem.


O orientador é colocado em posição lateral quando não é necessário que a bomba esteja em funcionamento, como por exemplo no inverno ou quando haja previsão de ventos muito fortes que possam danificar o cata-vento.

A importância da corda e das válvulas de borracha

A corda e as borrachas são de importância fundamental no funcionamento da bomba. Partindo do princípio que as borrachas devem vedar o melhor possível a água para que esta não se perca pelo tubo abaixo, é necessário ter em conta que o atrito também deve ser o menor possível, ou mesmo inexistente. Por isso, é impossível que os pequenos círculos de borracha vedem a água completamente, sendo necessário um equilíbrio entre esses dois fatores. Tive que fazer várias experiências até encontrar a solução mais eficaz, pois até os nós que se dão na corda podem, através de alguma fricção com as paredes internas do tubo, causar prisão na corda. Este problema não se coloca tanto nas bombas de funcionamento à manivela ou a pedal, porque pode ser imprimida uma maior velocidade à corda e mesmo que as borrachas deixem passar alguma água, é possível um bom rendimento.

Encontrei a solução mais eficaz fazendo as pequenas válvulas ou pistons de uma peça de borracha com cerca de 5 mm de espessura. Recortei os pequenos círculos, com o diâmetro um nadinha superior ao diâmetro interno do tubo e depois, com a ajuda de uma lixa, fui desgastando as peças de forma a que ficassem um pouco chanfradas e com a parte maior, isto é a parte que fica para baixo no interior do tubo, perfeitamente ajustada ao diâmetro do tubo, de modo a que, sem grande atrito, consigam vedar a água. Isto é de suprema importância, porque a bomba a funcionar com vento fraco consegue assim trazer alguma água para cima e, mesmo que pare por alguns segundos ou pouco minutos, a água consegue manter-se no tubo e assim, quando recomeçar a girar, o líquido volta a sair pelo tubo de descarga, sem grandes interrupções. É necessário ter também em atenção que os furos das válvulas se devem ajustar ao diâmetro da corda de modo a que não haja perdas de água por esses orifícios.

Depois de ter os pequenos círculos de borracha prontos, bastaria enfiá-los na corda e dar dois nós, um de cada lado, na corda.

Um outro aspeto a ter em conta para que tudo funcione bem é manter a tensão da corda sempre no valor correto (nem muito apertada, nem muito lassa). Para que isso aconteça sem ter que estar a desatar e atar de novo a corda, coloquei em prática um sistema que julgo não ser muito usual neste tipo de bombas. Trata-se de uma peça de madeira que se move em torno de um eixo acoplado ao mastro e que tem uma roldana numa extremidade e um pedaço de corda na outra, através da qual é possível tensionar a corda com grande facilidade.

Reparação de anomalias surgidas de pois do sistema estar a funcionar

As torres das minhas bombas de corda, ou sejam as colunas mais altas onde giram as roldanas principais, são troncos de eucalipto que foram colocados no local ainda em verde. Acontece que o eucalipto torce muito durante a secagem e foi por isso assim que um belo dia, durante este inverno, fui tentar acionar as bombas para encher o depósito e qual não foi o meu espanto quando constatei que nenhuma delas rodava. Achei estranho uma vez que na sua última utilização, há uns meses atrás, elas estavam a funcionar perfeitamente.

Não demorei muito a verificar qual era o problema: os paus de eucalipto tinham torcido de tal modo que as roldanas estavam atravessadas, tinham dado quase meia volta e isso impedia o seu funcionamento. Depois de meditar um pouco sobre a melhor maneira de resolver o problema, decidi, na bomba eólica, cortar cerca de 10 cm ao eucalipto e enfiar no topo do mesmo um pedaço de tubo de PVC, de diâmetro ligeiramente superior ao do pau. Em 10 cm desse tubo que tem cerca de 30 cm de comprimento, coloquei cimento, deixando já chumbado o eixo onde iria trabalhar a roldana.

Essa alteração permite que a roldana, em caso de necessidade, por exemplo se o pau voltar a torcer, seja acomodada para estar sempre alinhada com as outras roldanas do sistema, uma vez que o pedaço de tubo pode girar em torno da torre.

Quanto à bomba que é acionada pela bicicleta, decidi proceder do mesmo modo, mas aproveitando para fazer uma alteração importante de modo a corrigir um erro cometido inicialmente, que passo a descrever:

As bombas de corda devem ter o tubo onde circula a corda, a partir do tubo de escoamento, um grande aumento de diâmetro no tubo, tubo esse que deverá, após o T de escoamento, ter pelo menos meio metro de comprimento. A razão disso é para evitar o mais possível os salpicos e consequente perda de água, pois a corda quando está a girar a uma velocidade um pouco maior arrasta alguma água que não cai logo para o tubo de escoamento. Se o tubo situado acima do escoamento for do mesmo diâmetro ou de diâmetro pouco superior, muita água vai sair pelo cimo desse tubo. Assim, quanto mais largo e mais comprido for esse tubo, menos probabilidade existe de arrasto de água para a parte superior do sistema.

Acontece que eu tinha cometido o erro de deixar a torre pouco alta em relação ao nível de saída da água e, por isso também, o tubo da parte superior era curto, com a agravante de ser pouco mais largo do que o tubo que traz a água para cima. Foi por isso que logo de início andei a tentar remediar o caso aplicando na torre um recipiente de metal para aparar os salpicos e também a água que saía pela parte mais alta do tubo. Essa solução remediou, mas nunca satisfez porque a corda, mesmo assim, salpicava muita água.

Foi por isso que agora aproveitei para, de uma assentada, resolver dois defeitos da bomba: o problema do pau torcido de que já falei e também o dos salpicos.

Para isso, procedi do modo que já descrevi em relação à bomba eólica, mas aplicando um tubo com cerca de um metro no cimo da torre. Ao mesmo tempo coloquei também um tubo mais largo e mais comprido a partir do T de escoamento, o que veio fazer com que os salpicos diminuíssem muito, embora não acabassem de todo, porque a corda molhada traz sempre alguma água e, tratando-se de uma corda de algodão, como é mais absorvente não é possível acabar de todo com os salpicos, mas a situação melhorou bastante.

Aproveitei o ensejo para trocar o tubo de elevação da água que era de 32 mm, por um de 40 mm, para aumentar a capacidade de elevação de água e melhorei também o sistema de transmissão através da bicicleta. Depois disso, fiz um teste de rendimento da bomba e consegui ultrapassar um pouco os 100 litros por minuto de água elevada pela bomba. Foi uma importante melhoria, pois a bomba agora eleva o dobro da água do que elevava anteriormente. Não fiquei por aqui e como estou muito satisfeito com o rendimento desta bomba, (bomba a pedal) resolvi colocar mais um depósito de 1.000 litros, elevado, de modo a melhorar o meu sistema de rega ecológico e muito peculiar.

Novas e definitivas alterações no sistema de bomba a pedal

Algum tempo depois fiz na bomba mais cinco alterações que espero sejam as últimas porque este projeto tem-me dado “água pela barba”. Uma dessas alterações e talvez a mais importante foi a colocação de um novo mastro ou torre feito em tubos de fibrocimento e pvc, que foram concretados com ferro e cimento para substituição do anterior mastro que era feito de um tronco de eucalipto. Não que esse eucalipto já estivesse podre ou coisa que o valha, antes pelo contrário, mas achei por bem construir um mastro mais direito e também mais durável, uma vez que a base do eucalipto em contato com a humidade iria inevitavelmente acabar por apodrecer.

Outra alteração e que comprova também o sucesso deste engenho foi a colocação da roldana submersa mais junto ao fundo do poço, de modo a que a água seja quase toda elevada pela corda evitando ter que tirar água com um balde para esvaziar totalmente o poço quando quero fazer a limpeza do mesmo. Anteriormente, a roldana estava cerca de 30 cm acima do fundo e por isso ficava ainda muita água no poço que não era puxada pela bomba. Claro que se a bomba não desse resultado não me teria preocupado com estes pormenores.

Fiz também uma pequena melhoria no esticador da corda, uma coisa muito simples mas de grande importância, que foi a colocação de uns pesos na ponta do esticador oposta à sua roldana, de modo a que a corda se mantenha sempre esticada. Isto é muito importante porque as cordas, pelo menos durante as primeiras utilizações, tendem a alargar e, como é evidente, se a corda não estiver esticada o sistema não funciona nas devidas condições.

A quarta alteração foi a colocação de uma nova corda, desta vez uma corda de nylon para substituir a anterior que era de fibra de algodão. As cordas de nylon parecem-me mais resistentes para este tipo de utilização e são também mais baratas e, possivelmente, mais duráveis. Um pormenor a ter em conta é que a corda para além de ser o elemento mais importante do engenho é também o seu ponto mais fraco e isso é bem patente na minha bomba de corda devido ao seu funcionamento intensivo, pois não me limito a puxar um balde de água de vez em quando, mas a puxar, durante o verão, cerca de 20.000 litros de água. Isso origina naturalmente o desgaste das cordas, tendo que substituí-las pelo menos uma vez por ano, mas mesmo assim, compensa muito ter uma bomba destas.

Já fui contatado por vários leitores que me têm pedido mais explicações, mostrando vontade de fazer um engenho idêntico. Aquilo que posso dizer, referindo-me ao projeto eólico, é que devem ponderar bem todos os prós e contras antes de iniciar um trabalho desses, pois podem vir a sentir alguma desilusão, caso o projeto não fique bem dimensionado e que, especialmente, os ventos na suas zonas não sejam os mais indicados. Com ventos muito fracos o sistema pode não funcionar e, com ventos demasiado fortes, se não estiver tudo bem planejado e feito com a máxima segurança, podem um dia chegar junto da sua máquina feita com muito esforço e encontrar tudo despedaçado. O ideal é construir isto num sítio onde os ventos sejam mais ou menos constantes e soprem moderadamente, o que é precisamente o contrário do que acontece com o meu catavento, pois no sítio onde ele está, o vento tanto sopra muito fraco como de um momento para o outro atira com rajadas furiosas, sem falar da existência de longos períodos de calmaria, sem qualquer vento.

Na minha modesta opinião os prós e os contras de um engenho caseiro desta natureza são os seguintes:

Prós: 

É possível em pouco tempo elevar uma razoável quantidade de água com uma bomba deste tipo, desde que o vento sopre de feição, preferencialmente sempre constante e na mesma direção.

É possível, recorrendo a sucatas construir um engenho destes gastando muito pouco.

Contras: 

Este engenho necessita de alguma vigilância e manutenção para prevenir acidentes. Devem ser verificados periodicamente todos os elementos do sistema para manter a segurança e quando haja previsão de tempestades o orientador do catavento deve ser colocado em posição de bandeira para que o vento não atinja a turbina de frente, podendo-se assim evitar estragos.

Se o catavento estiver muito tempo a trabalhar a corda vai deteriorar-se rapidamente, por isso é aconselhável uma corda resistente. (Pela minha experiência aconselho corda de nylon)

A existência na zona de ventos turbulentos, que estão sempre a mudar de direção, que fazem diminuir o rendimento da bomba e que também podem causar estragos no sistema. 

Para terminar reitero que não é aconselhável a construção caseira de um engenho destes se os ventos no local, habitualmente não reunirem as condições ideias para o seu funcionamento, isto é se os ventos forem muito inconstantes, turbulentos ou se existirem longos períodos de calmaria. Uma boa alternativa pode ser a construção de uma bomba a pedal que, se for bem construída tem sucesso assegurado.