Construção de uma picota para elevação de água



O shadoof ou shaduf é uma ferramenta usada na irrigação desde cerca de há 3000 anos aC na Mesopotâmia, há cerca de 2000 anos aC no antigo Egipto e mais tarde (1600 anos aC) na China e em muitos outros países, incluindo Portugal.
  
O shaduf, é uma palavra de origem árabe, mas em Portugal essa ferramenta tomou várias designações como: gaivota, cegonha, picota, burra, balança e outros, conforme as regiões onde era utilizado. Este aparelho era constituído por um tronco enterrado no solo, tendo no cimo uma forquilha que, por vezes, era feita pela própria bifurcação das pernadas de uma árvore. Nesta forquilha colocava-se um pau com cerca de cinco ou seis metros de comprimento que se movia num eixo colocado nas duas hastes da forquilha e que tinha numa extremidade um contrapeso que, normalmente, era uma pedra. No outro extremo do pau era pendurada, na vertical, uma vara fina que tinha na ponta inferior um gancho onde se enfiava a asa do balde. O contrapeso servia para ajudar a subir o balde cheio de água, mas para o fazer descer tornava-se um obstáculo, pelo que o seu peso tinha de ser regulado de modo a que tanto a subida como a descida do balde fosse feita com o menor esforço possível.

Pode parecer, hoje, uma ferramenta obsoleta, mas ela ainda é utilizada e pode ser muito útil para regar pequenas culturas, em terrenos que tenham um poço pouco profundo, um rio ou um pequeno ribeiro, ou até mesmo uma vala onde circule alguma água.

Eu adoro esta tecnologias antigas, sou adepto de energias limpas e decidi construir uma ferramenta destas para retirar água de uma regueira…

Devo dizer que fugi um pouco à regra do que era normalmente a construção de uma picota na minha região. Aqui esses instrumentos eram feitos com recurso a um poste de madeira, cimento ou ferro que era firmemente espetado no solo. No cimo desse poste eram colocadas duas hastes em ferro ou madeira que serviam para aí colocar um eixo onde funcionava a vara principal. O operador ou operadores da picota, pois existiam ferramentas duplas e até triplas trabalhavam ao lado do poço ou numa margem do rio ou ribeiro, mas eu, atendendo à configuração do local onde instalei o instrumento, decidi aproveitar uma pernada da oliveira que está numa das margens daquela regueira ou vala, e pendurar aí a vara. Fiz um estrado entre uma margem e a outra e, desse modo, faço a tiragem da água por cima da regueira o que facilita o enchimento do balde, porque ele é manobrado ao longo do percurso da regueira e se trabalhasse na margem seria mais difícil manobrar o instrumento por falta de espaço.


Comecei por preparar um pau de eucalipto com cerca de 6/7 metros de comprimento e, ao centro, fiz um furo onde enfiei um pedaço de corrente metálica. Depois fiz também furos na ponta mais fina da vara principal e, utilizando também corrente metálica, fiz a ligação, através de parafusos, com a vara mais fina, aquela onde iria ser pendurado o balde. No extremo oposto da vara fiz um furo mais largo onde apliquei um pedaço de ferro onde iria depois enfiar os contrapesos. Esses contrapesos foram feitos com recurso a pedaços de tubo de pvc que foram cheios com cimento e pedras, tendo deixado ao centro um furo para que encaixassem no ferro da vara principal.

O trabalho seguinte foi fazer o estrado por cima da regueira, tendo recorrido a madeira usada que tinha em armazém à qual apliquei um banho de óleo queimado para ajudar à sua conservação. Na regueira fiz uma pequena presa para fazer a acumulação de água, indispensável para a ferramenta trabalhar.

De seguida, atei a corrente que tinha enfiado no furo ao centro da vara à pernada da oliveira e só depois preparei o encaixe para o balde. Primeiro ensaiei o instrumento para acertar o comprimento da vara vertical e depois recorrendo a uma espécie de abraçadeira que tinha no meu armazém de sucatas, fiz a aplicação do balde. De notar que o balde tem que ter mobilidade para se poder fazer o seu enchimento com facilidade. Como o balde que utilizei era um balde de tinta e eu não queria fazer publicidade gratuita à marca da tinta, pintei o balde com tinta azul.

Bem, como vêem um instrumento destes é bem fácil de fazer e acho que não me vou alongar com mais explicações. Acho que é uma pena já não se verem muitos destas ferramentas ainda a funcionar, porque, para além da poupança que proporcionam, podem ser muito úteis em determinadas circunstâncias, por exemplo para quem tem pequenas hortas junto a pequenos rios ou ribeiros e não quer estar a usar um motor que gasta combustível e causa poluição, isto para não falar das arrelias que essas máquinas às vezes provocam quando o motor não quer arrancar.

Já falei da construção da picota, agora se a quiserem ver a funcionar é só abrir o vídeo…