OS ECOS DA BATALHA

O Hotel Palácio do Buçaco

Quando, há cerca de vinte anos atrás, entrei pela primeira vez na Mata do Buçaco, vindo da parte mais alta da serra e deparei com o Palácio, ali no meio do arvoredo, pensei que estava a viver um sonho. Não conhecia o local e nada fazia prever que depois de muitos quilómetros a pedalar por entre pinheiros e rochas, ia entrar repentinamente num ambiente de autêntico conto de fadas. Desde miúdo que ouvia falar muito no Buçaco, principalmente por causa da Batalha e também pela sua beleza, mas não imaginava nem esperava encontrar ali tamanho monumento.

De qualquer modo sempre associei o Buçaco em primeiro lugar à Batalha que ali se travou no período das invasões francesas e por isso ali voltei no dia 26 de Setembro  para fazer uma viagem ao passado e assistir ao vivo àquele acontecimento histórico.

A recriação da batalha

Neste vídeo podem ver-se os preparativos para a recriação da batalha. Como curiosidade e se tiver o som ligado, pode ouvir em fundo, um diálogo engraçado entre uma espectadora e o Coronel Ribeiro de Faria, na altura em que este se preparava para fazer a locução da batalha. Momentos de humor na festa.

Cheguei às Portas de Sula uma hora antes do início da reconstituição e pude assim apreciar os preparativos, por parte dos intervenientes, mas também o ambiente de festa e de expectativa por parte das pessoas que iam chegando para assistir ao evento. Os artilheiros iam preparando os canhões e, de vez em quando faziam fogo, talvez para testar as peças, cujos disparos faziam um enorme estrondo, mas que não passava disso mesmo, pois, como é evidente, não continham qualquer projéctil. Penso que aquele ambiente, com os soldados e os seus uniformes diversificados e muito coloridos, teria algumas semelhanças com o trabalho cinematográfico em filmagens de cenas históricas.

Estava um dia de sol magnífico, que tornava a festa ainda mais colorida a contrastar com o mesmo dia, duzentos anos atrás, que amanhecera envolto em denso nevoeiro. Deferente também é agora a paisagem, muito arborizada, que na época era perfeitamente escalvada, com matos baixos, o que permitia que todos os movimentos efectuados na serra fossem observados por quem se encontrava nos pontos mais altos.

Mas a verdade é que a recriação da batalha foi, antes de mais, uma importante aula de história ao vivo. A acção foi descrita com grande clareza pelo Coronel Ribeiro de Faria, que tem estado ligado a estas recriações sobre batalhas das invasões francesas, que se têm realizado em Portugal. Foi através dele que fiquei a saber, por exemplo, que os soldados das várias forças tinham os seus uniformes muitos distintos e coloridos, porque naquele tempo havia a necessidade premente de se saber quem era quem, ao contrário de hoje, pois agora com as novas tecnologias de guerra o interesse maior é o de passar despercebido e por isso são usados os uniformes camuflados. Outra curiosidade explicada pelo Coronel foi o significado da expressão “ir pró maneta”, que teve origem no general Loison, general de Junot durante as invasões francesas; um homem de grande ferocidade que tinha perdido um braço durante uma batalha, sendo por isso apelidado de “o maneta”. Quem tivesses o azar de ser preso e de ser chamado à sua presença tinha a sentença garantida: ia pró maneta!

Os ecos da batalha

Desta Batalha, que ocorreu no dia 27 de Setembro de 1810, encontram-se por ali alguns marcos, dos quais o mais significativo é o Museu Militar do Buçaco, que foi fundado a 27 de Setembro de 1910, por altura do 1º Centenário da Batalha, em homenagem à vitória do Exército Anglo-Luso.

Mas existem outros ecos da Batalha do Buçaco, como o Obelisco comemorativo da Batalha (1873), o Moinho de Sula, que foi posto de comando do General Craufurd, o Moinho de Moura, posto de comando do General Massena e outros marcos históricos ligados ao acontecimento.

Mas o maior eco da Batalha é, sem dúvida, a heroicidade dos nossos antepassados, que ficou para sempre na memória do povo.

Fonte consultada: Jornal Mealhada Moderna

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