Sempre
desejei instalar em minha casa um sistema solar para aquecimento de água, mas o preço elevado desses equipamentos foi sempre um obstáculo
intransponível, pelo que há alguns anos atrás comecei a magicar na forma de
construir um sistema desses de forma artesanal, de modo a tentar diminuir os gastos com gás.
A
minha primeira experiência no fabrico de um painel solar foi desastrosa. Para
além da falta de conhecimentos na matéria fui também muito ingénuo, pois não
me informei previamente sobre o sistema de termossifão, de modo que coloquei
numa caixa de madeira uma quantidade de metros de tubo de plástico preto de ½
polegada enrolados que cobri com um plástico, tendo ligado as duas pontas do
tubo a um bidão de 200
litros situado um pouco acima do painel. Claro que a
água aquecia no tubo, mas não circulava, pois para o sistema funcionar
perfeitamente a água fria tem de entrar no fundo do painel e depois subir,
conforme vai aquecendo, mas não pode andar às voltas porque a tendência da água
aquecida é sempre para subir e não pode, portanto, andar às voltas de baixo
para cima e vice-versa, no tubo enrolado. Claro que assim era muito fácil
construir um painel solar; não era necessário qualquer acessório para ligar os
tubos e isso significaria menos despesa e menos probabilidade de roturas, para
além da vantagem de o tubo preto ser barato e aguentar muito bem temperaturas
altas, o que comprovei, pois verifiquei que o tubo que utilizei no painel não
se derreteu mesmo com a água parada no seu interior e que atingiu temperaturas
elevadas pois o isolamento que tinha colocado no fundo da caixa, de esferovite,
esse sim derreteu-se.
O fundo de um painel de fabrico profissional. Os tubos de cobre estão envoltos numa chapa também de cobre, pintada de preto na parte superior. |
Depois
do fracasso dessa primeira tentativa resolvi debruçar-me melhor sobre o
funcionamento dos sistemas solares térmicos e, então, cheguei à conclusão que
os tubos de um painel têm que ser dispostos em forma de grelha e para um maior
rendimento estarem ligados ou a uma chapa de metal pintada de preto, pois assim
a alta temperatura da chapa transmite-se aos tubos ajudando a aquecer a água.
Claro que o vidro que cobre os painéis assume também um papel muito importante,
pois vai impedir que o calor saia para fora do painel. Imagine-se um dia de
sol, mas com vento frio; seria um desastre se o painel não tivesse vidro, seria
quase como uma ventoinha refrigeradora.
O painel à esquerda foi feito com tubos de plástico preto, envoltos numa placa de cimento. |
Foi
então que tive a ideia de fazer um painel utilizando o mesmo tubo preto, mas em
forma de grelha para o que utilizei nas junções acessórios do mesmo material,
material que, como já disse, considero de boa qualidade e barato. Nestas
junções cometi um erro que mais tarde foi fatal, de que falarei mais adiante.
Para
que a água aquecesse mais nos tubos, conviria que os interligasse com um chapa
metálica, ou que pelo menos colocasse essa chapa por debaixo da grelha. Como
nunca tive grande jeito para latoeiro, decidi envolver os tubos numa placa de
cimento armado com cerca de três cm de espessura, que construí em cima de uma
placa de poliestireno expandido (esferovite azul) que ficava a servir de
isolamento do fundo do painel. Acreditava que placa de cimento iria aquecer e
esse calor transmitir-se-ia aos tubos aquecendo a água. Depois cobri a placa
com um plástico e, devo dizer, que os resultados foram fantásticos; funcionava
perfeitamente e em dias de sol forte o seu rendimento era superior ao de um
painel de fabrico profissional, que entretanto me tinham oferecido e que estava
a funcionar ao lado deste. O plástico entretanto desfez-se e o painel ficou a
funcionar sem esse componente, dando um bom rendimento mesmo assim, pelo que
decidi não renovar a cobertura, até porque o plástico não dura muito tempo
quando exposto às influências climatéricas. Quando fiz a argamassa para a placa
adicionei-lhe um corante preto, tendo evitado dessa forma a pintura da sua
parte superior. O único problema era o peso do painel, mas como foi construído
em cima de um terraço, não existiu grande inconveniente.
Este
painel ainda esteve a funcionar durante cerca de três anos, mas, como já disse,
um erro nas junções dos tubos foi fatal, pois começou a verter e não houve
possibilidades de fazer a reparação. Esse erro foi apenas devido a não ter
utilizado braçadeiras nas uniões, pois apenas utilizei uma cola, que depois
verifiquei não ter sido apropriada para o efeito. Foi tudo devido a tentar
poupar o mais possível, mas depois verifiquei que poderia ter deixado a parte
superior e inferior dos tubos fora do cimento e assim poder proceder a
eventuais reparações. Ainda pensei em colocar uma nova grelha de tubos por cima
daquela placa e envolve-los em mais uma camada de cimento mas desisti da ideia,
pois iria ficar uma placa muito espessa e pesada, tendo decido construir outro
painel e, entretanto, remediar-me apenas com o de construção profissional.
Já
se passou algum tempo e ainda não me aventurei na construção de outro, tendo
descartado, pelo menos para já, a hipótese de fazer outro igual ao anterior,
com as necessárias correções, como é evidente, procurando antes pesquisar outras
possibilidades, tendo em vista a economia e também um possível maior
rendimento, em dias de menos sol ou sol mais fraco.
Uma página do livro de John Seymour. |
No
livro “Manual Prático da Autossuficiência, de John Seymour, encontram-se
algumas indicações para que se possa, de uma forma económica, aquecer água para
uso doméstico. John Seymour fala mesmo em utilizar as fachadas viradas a sul de
telhados de zinco ondulado, que se poderiam pintar de preto, fazendo circular
água por cima deles, que assim aqueceria, uma vez que em dias de sol as
coberturas de chapas de zinco ou alumínio atingem temperaturas elevadas. Eu
acrescento que um sistema desses, no verão, teria também a vantagem de manter a
casa, o barracão ou o que fosse, mais fresco em dias de muito calor.
Parece-me
uma forma bastante lógica de aproveitar o sol para aquecer água, mas, sinceramente,
nunca vi nenhum sistema desses a funcionar, nem sequer ainda tinha ouvido falar
em tal.
John
Seymour apresenta muitas outras sugestões, para aproveitar o sol para
aquecimento e uma delas passa pela utilização de um radiador dentro de uma caixa,
pintado de preto e assente em cima de um colchão de fibra de vidro para servir
de isolamento. A caixa seria tapada com um vidro, no entanto, o autor deste
esquema não menciona a forma de armazenar a água quente e parece-me que, aqui,
o funcionamento em termossifão não resultaria a não ser que a disposição dos
tubos do radiador permitisse que a água subisse de forma uniforme. Num sistema
caseiro em que se pretenda juntar economia e algum rendimento, parece-me que
não se pode dispensar a circulação natural, ou termossifão, uma vez que assim é
dispensada a utilização de qualquer bomba.
Painel construído com a tubagem de um frigorífico. Fonte da imagem |
Encontrei
outro sistema idêntico a este num blogue inglês, em que foi utilizada para a
confeção de um painel, uma grelha de tubos daqueles que se encontram na parte
de trás dos frigoríficos. Não sei se aqui a circulação natural da água
ocorreria, mas de qualquer modo penso que também não seria a solução ideal pois
esses tubos são muito finos e, por isso, com o calcário da água depressa
ficariam obstruídos e o rendimento seria mínimo.
No
livro de John Seymour aparece ainda outra forma de aquecer água, que consiste
em enfiar uma mangueira dentro de garrafas velhas a que foi previamente
retirado o fundo. Dependendo do comprimento da mangueira, esta estendida ao sol
no pátio ou no jardim, penso que daria para à tardinha tomar um rico duche,
mesmo sem as garrafas, pois a água parada dentro da mangueira exposta ao sol
aquece facilmente.
Num
sistema solar térmico os painéis são muito importantes, mas talvez mais
importante ainda é o armazenamento da água quente e, por isso, o depósito
solar, ou depósitos, têm que ter capacidade para armazenar e conservar a água
quente de modo, por exemplo, a que depois de um dia de sol a que se segue uma
noite fria, a água esteja em condições de, pela manhã, se poder usufruir de um
duche quente.
Os
sistemas que referi não mencionam o modo de fazer o armazenamento de água
quente, mas, de uma forma económica, é possível construir um ou mais depósitos
para esse fim, com capacidade superior a 200 litros e que
conservam a temperatura da água por muitas horas. Foi isso que fiz no meu
sistema artesanal de que já falei em “Construção de um sistema solar térmico artesanal”. Trata-se, nada mais, nada menos do que utilizar arcas frigoríficas,
que neste caso em vez de conservar alimentos através do frio, conservam água
quente.
A
descrição completa desse sistema consta do referido artigo, ele já se encontra
em funcionamento há meia dúzia de anos e os depósitos têm-se aguentado muito
bem e, mesmo agora apenas com um painel, o sistema aquece água para toda a
família tomar banho, lavar a louça e ainda daria para mais, nesta altura do ano
(junho), pois as arcas têm capacidade para cerca de 200 litros cada e mesmo
que haja um dia por outro sem sol, não há necessidade de recorrer ao
aquecimento por gás.
Naturalmente
que nos meses menos favoráveis, que vão de novembro a fevereiro, um só painel
não tem capacidade de resposta para os dois depósitos, pelo que nessa altura um
é desligado do circuito e há necessidade de recorrer ao esquentador a gás. Para
que nesse período possa obter um maior rendimento do sistema, pretendo, como já
disse, construir um novo painel.
Estou
a pensar em construir uma caixa, tipo uma bolacha retangular, feita com chapas
zincadas ou talvez em inox, em que as duas chapas ficarão separadas por menos
de um cm, formando assim uma lâmina de água que receberá de forma uniforme o
calor da chapa superior. Penso que assim não será muito difícil fazer um
painel, e que a água subirá de forma natural para os depósitos. Creio também
que se poderá obter um bom rendimento do sistema, e ele será testado ainda sem
tampa de vidro, como precaução contra gastos desnecessários no caso de
insucesso do projeto.
Peço
aos leitores que se interessam por este tipo de trabalhos, que participem dando
ideias e opiniões sobre o assunto, pois essas participações serão muito
importantes e uma ajuda valiosa para todos os que se quiserem aventurar a
construir o seu próprio sistema solar térmico.
Artigo relacionado:
Construção de um sistema solar térmico artesanal
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Construção de um sistema solar térmico artesanal
você já tentou fazer uma roda dágua para gerar energia, para ascender as lâmpadas da sua residência? pense bem e pequise sobre o assunto.
ResponderEliminarEu gostaria de saber como fazer uma
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