É
na Capela da Senhora da Boa Morte que se inicia a maior manifestação religiosa
do concelho, a Solenidade dos Passos do Senhor, que atrai milhares de pessoas a
Miranda do Corvo, para uma manifestação de grande intensidade religiosa.
Esta
Capela encontra-se isolada num adro da vila. Anteriormente terá lá existido a
Capela de S. Cristóvão, de que subsiste documentação provando a sua existência
em 1576. Houve igualmente, à sua frente, um adro com um cruzeiro com o nome do
mesmo santo. Lá se enterravam os que, sendo de fora da freguesia, nela
pereciam, o que levou a que chamassem aquele adro “pátria dos peregrinos”.
No
século XVIII esta era a maior Capela da vila e por esse motivo quando na igreja
paroquial não era possível celebrar o culto, vinham temporariamente as funções
paroquiais para S. Cristóvão. Assim em 1709, havendo necessidade de levar a
cabo obras na Matriz, as missas diziam-se em S. Cristóvão. Em 1767, pensou-se
em construir uma nova igreja matriz, porque a que existia estava muito
arruinada. Chegou a elaborar-se um projeto de alargamento da capela de S.
Cristóvão, para a sua transformação em matriz, mas a ideia não foi, porém,
avante.
Em
1785, quando se demoliu a velha igreja matriz, a capela de S. Cristóvão voltou
a ter funções paroquiais, até se fazer a nova matriz que atualmente existe.
Estas razões da sua importância serviram até para que se retirasse do adro e
das proximidades, a feira semanal que aí se fez até 1775: nesse ano a Câmara e
os moradores forçaram para que fosse mudada para a praça sobranceira ao rio e,
entre as alegações, aparece a da “indecência considerável” que o mercado
representava para a celebração do culto na capela, especialmente nas primeira
quartas-feiras do mês, em que a afluência de gente e o burburinho
correspondente se contrapunham à seriedade e compostura dos actos religiosos.
A
Guerra Peninsular trouxe graves consequências para a região e a capela foi
queimada pelos franceses durante a 3ª Invasão. Por esse motivo esteve em obras
até 1838, ano em que se fez novo compromisso com a Irmandade, por ter ardido o
anterior, e se pediu aprovação régia. A construção atual pertence à segunda
metade do séc. XVIII, altura em que a capela muda de patrono.
A entrada para o recinto da capela. O contorno ligeiramente arredondado dos dos muros tem a forma de um barco. |
De
facto, a configuração dos muros tem alguma semelhança com a forma de uma barca,
exceptuando, talvez, a parte da frente que corresponderia à proa, que não
termina em bico. No entanto segundo informações que obtive de um responsável da capela, antigamente os muros terminavam mais à frente até que foram cortados
devido ao alargamento das ruas envolventes. Poderá ser essa a explicação para a
forma atual da entrada para o adro que simbolicamente corresponde à “proa da
barca”.
Andor de Nossa Senhora da Boa Morte, em forma de barco. |
Miranda
do Corvo não tem qualquer ligação ao mar e por esse motivo ver a imagem de
Nossa Senhora deitada num barco teria forçosamente de ter uma explicação,
parecendo-nos ser esta a mais lógica e que é aliás a explicação contida num
folheto editado pela Câmara Municipal.
Existem muitas imagens de Santos que, nas procissões, são transportados em andores em forma de barco. Um deles é o Apóstolo e primeiro bispo de Roma: Pedro. Na imagem o andor de S. Pedro na procissão da Afurada/Vila Nova de Gaia Foto: Blog "Depois de um dia". |
Não é incomum o transporte em procissões de santos em andores em
forma de barco, mas tem quase sempre a ver com populações de pescadores ou
também com imagens de Santos intimamente ligados ao mar. Por isso a Capela de
Nossa Senhora da Boa Morte, com a sua forma envolvente em forma de barco e o
andor que tem a mesma forma é sem dúvida muito original e pode causar alguma
admiração a quem não conheça a história da Capela.
Fonte consultada:
Folheto da Câmara Municipal sobre a história da Capela de N. S. da Boa Morte.
Muito interessante esta capela!
ResponderEliminarUma tradição muito interessante
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