Começa assim um artigo de quatro páginas publicado no nº
477 da Revista da Armada, sobre o Hospital da Marinha:
O Hospital da Marinha, que foi uma referência viva de todos
os marinheiros, já não existe.
Foram 216 anos de bons serviços prestados à Marinha, ao
País, na sua dimensão pluricontinental, e à Medicina Portuguesa, pelo seu
pioneirismo e contributo em vários domínios e prestígio dos seus profissionais.
No final, parafraseando o Padre António Vieira, o Hospital
da Marinha fez o que devia e a Pátria o que é costume: esqueceu-se de lhe
agradecer! Faz agora parte da História.
Em
Agosto do ano transacto foi determinada a fusão dos hospitais militares na área
metropolitana de Lisboa. Nos oito meses que se seguiram foram sendo
progressivamente desactivadas as valências existentes e transferidas para o pólo
de Lisboa do Hospital das Forças Armadas. No final do mês de Abril passado
encerrou o último serviço hospitalar, o serviço de Imagiologia. O Hospital da
Marinha cessou assim o seu desempenho assistencial.
É
mais um serviço da Marinha que encerra e, embora não me cabendo a mim fazer
considerações técnicas sobre o porquê da Marinha estar aos poucos a ser
descaracterizada, sendo cada vez mais os seus serviços uniformizados com os dos
outros ramos das Forças Armadas, não posso, como antigo marinheiro e utilizador
daquele Hospital, onde estive internado por duas vezes, ainda antes da
Revolução de Abril, lamentar o seu fim.
Se
tivesse más recordações do serviço que era prestado aos doentes, provavelmente
não iria lamentar o seu fecho ou sequer escrever algo sobre isso. Mas a verdade
é que, apesar do contexto que rodeiam essas recordações não ser agradável,
(ninguém recorda a doença ou um acidente com saudade) o que ficou desse tempo na
memória foi a extrema competência dos profissionais de saúde que lá exerciam
funções. Recordo também a bonomia com que os doentes eram tratados e, nesse
aspecto, não posso deixar de referir as senhoras do Movimento Nacional Feminino,
(sobre as quais já falei no blog), que frequentemente faziam visitas aos
doentes procurando inteirar-se do seu estado e minimizar a sua dor. Também traziam
pequenos presentes para dar aos doentes como livros, porta-chaves e outras
pequenas coisas.
Segundo
o artigo da Revista da Armada, o Hospital da Marinha, durante os seus dois
séculos de vida, foi-se sempre modernizando, adquirindo novos equipamentos e
também proporcionando um vasto leque de contributos para a assistência
sanitária em Portugal, como poucas outras Instituições o terão feito. É verdade
que isso foi, sem a menor dúvida, muito importante para o país e para os
doentes, mas a capacidade profissional dos marinheiros que lá exerciam
medicina, enfermagem, ou outros quaisquer serviços é sempre muito superior para
o bem estar dos doentes do que o mais sofisticado equipamento médico. O
atendimento humano perdurará sempre na memória dos utentes, muito para além de
qualquer inovação tecnológica.
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