CONSTRUÇÃO PASSO A PASSO DE UMA CABANA DE TRONCOS

Para a boa construção de uma casa de troncos, ou mesmo para uma pequena cabana  como é o caso tratado neste artigo, é essencial ter um stock de toros de boa qualidade, ou pelo menos que sejam todos de tamanho aproximado e direitos, sendo de toda a conveniência que o seu diâmetro não seja inferior a 15 cm. Não foi o caso desta construção, pois as árvores utilizadas, na sua maioria, eram muito tortas e os troncos tinham diâmetros que variavam entre os dez e os vinte e cinco centímetros. Isto obrigou a um acréscimo de trabalho no assentamento e preparação dos troncos, porque estes têm obrigatoriamente de ficar com duas faces direitas para que não fiquem com espaços muito grandes entre eles para tapar. Mais tarde, durante o assentamento, cheguei a pensar ter sido um erro optar por aquele tipo de construção sem ter troncos em quantidade e qualidades suficientes. As dificuldades acabaram por ser superadas, mas a cabana teve de ficar mais pequena do que inicialmente previra.


1 - Corte, transporte e descasque dos troncos

As árvores que tinha disponíveis não eram muitas e estavam num terreno de difícil acesso, que estava invadido por silvas. Devido a isso foi muito difícil a sua extração e transporte para o local da construção. Para o transporte foi essencial a minha moto-enxada que tem sido, aliás, um equipamento imprescindível na execução dos meus projetos caseiros.

O baixo custo da construção que incluía, como é lógico, fazer todo o trabalho com as próprias mãos, era um meta imprescindível e por isso não podia adquirir outras árvores ou troncos, mas quem pensar em fazer uma construção idêntica será melhor precaver-se com um stock de troncos grande em quantidade e qualidade.

A maior parte dos troncos que utilizei são de pinho, mas a cabana também tem à mistura eucaliptos, tábuas provenientes de um castanheiro e algumas carvalhas, estas últimas muito pouco indicadas para o trabalho devido à irregularidade dos troncos. Pela experiência adquirida fiquei com a noção de que os troncos de eucalipto são os melhores para este tipo de trabalho, pois descascam-se facilmente sem ficarem com resíduos de casca e são muito fáceis de trabalhar em verde, para além de se encontrarem eucaliptos de troncos bem direitos. Para além disso o eucalipto, ao enxuto, é muito durável e até poderá dispensar qualquer tipo de produto para conservação. O único inconveniente parece-me ser o facto de racharem com alguma facilidade, mas creio que isso pode ser evitado, em parte, se as árvores forem cortadas na altura certa e não estiverem expostas ao sol durante a secagem.

Depois de já ter reunido um número de troncos que julgava suficiente para a construção da cabana, dei início ao seu descasque. Os pinheiros não são muito fáceis de descascar e ficam sempre alguns restos de pele agarrados ao tronco e daí aquelas manchas acastanhadas com que eles ficaram. Na minha opinião é impensável executar um projeto destes sem descascar os toros pois a casca irá servir de alojamento aos parasitas da madeira e impedir a aplicação de um produto conservante o que irá, inevitavelmente, abreviar o seu apodrecimento.



2 - Serragem das tábuas para a porta

A porta da minha cabana de troncos irá, com toda a certeza, durar muito para além das paredes. O que garante isso é o facto de ter sido feita com madeira de castanheiro e de ficar abrigada pelo telhado da pequena varanda. O castanho é das madeiras mais duráveis que existem, o que não se pode dizer do pinho com que foram feitas as paredes.

O meu terreno tinha um castanheiro cujo diâmetro, na base do tronco, ultrapassava os 30 cm. Como não dava castanhas, ou estas eram de muito má qualidade, achei que seria muito mais útil transformado em tábuas. Como precisava da madeira para a porta e também de uma mesa resolvi cortá-lo para o transformar em tábuas. Estavamos no início do mês de Julho e essa não era a melhor altura cortar árvores. Na serração disseram-me que os troncos não podiam ser serrados já porque a madeira iria estalar toda e que teriam de ficar a secar à sombra durante vários meses.

Perante isto, resolvi arriscar e serrar eu próprio o castanheiro, utilizando a motosserra. Nunca tinha feito um trabalho desse tipo e as tábuas do primeiro tronco que serrei ficaram muito irregulares, mas com a prática melhorei e acabei por obter 12 tábuas com 4 cm de espessura. Eram um bocado grossas, mas estava com receio de que elas viessem a rachar e por esse motivo resolvi mergulhá-las em água, dentro de um tanque, porque tinha ouvido dizer que isso seria bom para a madeira e que depois secariam rapidamente. As tábuas estiveram na água durante duas semanas e esta ficou toda negra com a tinta que saiu do castanheiro, tendo depois sido empilhadas para secarem, num local onde o sol não chegava. O certo é que as tábuas não racharam durante a secagem, mas quando as retirei para fazer a porta e a mesa ainda não estavam completamente secas. De qualquer modo, este processo todo foi muito rápido, não chegando a demorar dois meses.

Devido à irregularidade das tábuas tive de utilizar a plaina para que a porta e a mesa ficassem com uma apresentação razoável, mas mesmo assim valeu a pena esta operação de serragem pouco convencional.   



3 - Alicerces e base da cabana

Os alicerces e o murete onde assentam os troncos das paredes da cabana foram a primeira etapa da construção e também a mais fácil de executar. Os alicerces ficaram apenas com cerca de 30 cm de profundidade e creio que isso foi mais do que suficiente. Foram cheios com pedra e betão e depois ergui um pequeno murete com 30 cm de altura e 20 cm de largo, em cima do qual comecei a assentar os troncos. É certo que poderia colocar os troncos logo em cima da fundação, mas isso não seria boa ideia porque estariam em contato direto com a humidade do solo e apodreceriam mais depressa. Mesmo assim é de toda a conveniência colocar troncos mais grossos e de melhor qualidade no fundo, pois estes estarão sempre mais expostos à chuva.

O murete foi construído também com pedra e betão, não tendo utilizado ferro, por uma questão de economia e também porque achei que não seria necessário.

No chão do interior da cabana e também da pequena varanda coloquei cacos de telhas e tijolos e depois uma primeira camada de betão, já nivelada, que iria servir de base para mais tarde fazer o acabamento deste trabalho.



4- Assentamento dos troncos

O assentamento dos troncos foi a etapa mais difícil e demorada de toda a construção. A minha intenção era ir colocando argamassa em cima dos troncos, ficando estes assim com as juntas já fechadas, mas depressa verifiquei que isso não era viável, por diversas razões, entre as quais se contava as inúmeras manobras que tinha de fazer com os troncos até conseguir que eles se ajustassem minimamente, porque como já disse, infelizmente a maioria dos toros eram mesmo bastante tortos.

No entanto consegui assentar os primeiros troncos em cima de uma camada de cimento e o trabalho começou muito bem. Tratei de escolher os paus mais grossos e pesados para o fundo, porque sabia que as dificuldades iriam aumentar na mesma proporção em que subiam as paredes.

A minha intenção era construir uma cabana rústica, de pequenas dimensões, mas de configuração idêntica às que os colonos construíam nas pradarias do Oeste Americano, introduzindo-lhe no entanto algumas inovações como a colocação de isolamento e forro na cobertura. A colocação horizontal dos troncos, entrelaçados nas pontas, que é uma característica deste tipo de construções, é uma garantia de segurança e praticamente não é preciso utilizar pregos, no entanto é muito trabalhoso fazer os encaixes para os troncos e, no caso desta cabana, devido à irregularidade da madeira ainda se tornava mais complicado. Por isso, com o trabalho que tinha a  aparelhar os troncos e fazer os encaixes, demorava quase um dia para assentar quatro toros.

Os troncos na horizontal, com os topos saindo para fora das paredes cerca de 20 cm, obriga a diminuir o espaço interior e por isso é necessário ter em conta esse facto na hora de traçar as árvores, porque, para além dos 20 a 30 cm que ficam de fora, também é preciso contar com a espessura das paredes, ou seja com o diâmetro dos troncos, medida que não vai contar para a área interior.

Na abertura da porta e da janela optei por colocar, a servir de ombreiras, as duas metades de um tronco que serrei ao meio com a motosserra. Isso facilitou o assentamento dos troncos nesses locais, pois estes eram encostados de topo à parte serrada dos meios troncos das ombreiras. Mais tarde, aquando da colocação da porta, fui obrigado a serrar a outra parte do tronco, verificando ter sido um erro não ter colocado os troncos das ombreiras com duas faces serradas. Como é sobejamente conhecido, as portas para funcionarem bem têm de estar aplicadas a aros bem direitos, por isso estas ombreiras, antes de se começar a encostar-lhe os troncos devem ser devidamente aprumadas.

Quanto às padieiras, estas foram formadas por um tronco inteiro que foi serrado nas partes em que assenta nas duas aberturas, tendo a parte superior da porta e da janela ficado ao mesmo nível, como é normal na maioria das habitações. Foi a partir deste tronco que começou a empena, mas reconheço que seria bom assentar mais uma ou duas fiadas de troncos a toda a volta da cabana, mas eu não tinha mais madeira e o trabalho era cada vez mais difícil, pelo que decidi que já ficava bem assim; afinal era apenas uma cabana…

Continuação do artigo


7 comentários:

  1. Parabéns. Qual o nome da música de fundo e cantor.?

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    1. A canção é "Pedra Filosofal", o cantor é Manuel Freire e a letra é um poema de António Gedeão, poeta português.

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  2. Muito linda a canção é principalmente a cabana, meu sonho, demais realmente ficou muito linda.
    Parabéns Deus abençoe pelo dom
    Qual o material usado no forro? Por favor detalhes
    rsrs vc colocou as telhas diretamente em cima, não entendi esta etapa da construção do telhado..obrigada.

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    1. Obrigado pelo comentário. O material que usei no forro foram estores de pvc que aproveitei de sucatas, mas o melhor mesmo era ter usado madeira. Esse forro foi colocado por cima dos barrotes e em cima desse forro, coloquei placas de polietileno expandido para isolamento térmico.
      Finalmente coloquei as telhas em cima das placas de isolamento.
      Espero que tenha compreendido, mas estou sempre à disposição para os esclarecimentos que precisar.

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  3. Ahhh e que região é essa, país e cidade

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  4. Parabéns pelo trabalho. Você poderia passar as dimensões da cabana?
    Uma planta baixa?

    Alexandre
    Brasil

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    1. Obrigado pelo comentário. A cabana é de pequenas dimensões, tem, 3,60mx2,60m.

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