Depois
da polémica gerada nos últimos meses sobre a licença para aplicar produtos
químicos na agricultura em que, segundo se dizia, apenas poderiam aplicar esses
produtos quem fosse portador dessa licença, documento que era, e ainda é, obtido
através da frequência de um curso de formação que custa oitenta euros, decidi
eu próprio fabricar os produtos para combater algumas pragas das culturas.
Entretanto,
já se sabe que os pequenos agricultores que produzem apenas para consumo próprio
e em que a sua horta não ultrapasse os 600 m2 , podem adquirir os produtos
fitofarmacêuticos de que necessitam ser ter que frequentar nenhum curso, neste
caso adquirindo produtos rotulados para não profissionais e que são taxados com
IVA a 23%, ao contrário dos destinados a aplicação por profissionais cuja taxa
de IVA é de 6%.
Porém
a polémica continua, dizendo-se agora que os fornecedores desses produtos não
irão colocar à venda químicos destinados a não profissionais e os que forem
comercializados terão um preço exorbitante, quando comparado com os
profissionais.
Por
tudo isto, estou decidido a ir em frente com a minha ideia de passar a usar
produtos biológicos, produzidos por mim, pois não estou disposto a despender
oitenta euros para tirar um curso, depois de quase cinquenta anos a aplicar
produtos venenosos nas minhas batatas, árvores etc., produtos sem qualquer
garantia de eficácia e que além de prejudicarem a saúde, muitas das vezes nem
sequer dão qualquer resultado, tal como aconteceu comigo no ano passado em que
segui todas as recomendações dos fabricantes desses produtos, aplicando químicos nas minhas batatas, respeitando todas as regras e, quando o batatal tinha dois
meses, já quase parecia tabaco a secar ao sol.
Não,
muito obrigado… pagar oitenta euros, para obter resultados destes, dispenso em
absoluto. E, além de tudo isso, detesto aplicar esses produtos, pois cheiram mal,
fazem mal e custam muito dinheiro. E convém ter em conta que para arrancar
oitenta euros à terra, na agricultura caseira, é preciso suar muito, mesmo
muito…
Para
já, tenho preparados cerca de cinquenta litros de chorume de urtigas, um
produto biológico que se obtém com a fermentação de urtigas, que serve para
combater algumas pragas e também como adubo. Para além do chorume de urtigas
irei preparar outros produtos biológicos para aplicar em árvores e batatais,
logo que esteja devidamente informado sobre a forma de o fazer, estando também
a considerar utilizar caldas bordalesas, dispensando em absoluto os milrazes,
ridomiles, antracóis e outras parvoíces…
Fiz
o meu primeiro chorume de urtigas, fermentando o produto em garrafões de
plástico, mas depois desisti da ideia dos garrafões, pois dava algum trabalho
meter as urtigas lá dentro, passando a simplesmente meter as urtigas numa vasilha
com água. É um processo sem custos e muito fácil de executar, sendo que a maior
dificuldade é coar o produto no final, mas nada por aí além. Outra coisa que
pode importunar um pouco é o mau cheiro do produto, sendo que a mim não causou
grande incómodo.
Para
quem quiser fazer chorume de urtigas aqui fica a receita:
10 litros de água – de preferência água da chuva ou de poços, porque não deve ter cloro.
Um recipiente grande de preferência de madeira ou de plástico. Se for de plástico convém ser de plástico que não liberte químicos para o fermentado podendo, por exemplo, usar plástico alimentar. Nunca utilizar recipiente de metal, exceto se for de inox.
Colocar as urtigas de molho na água e tapar o recipiente deixando-o à sombra. O processo de fermentação começa quando surgirem bolhas à superfície e demora cerca de uma semana, dependendo da temperatura ambiente. Se as temperaturas forem baixas demora mais, se forem altas demora menos.
Mexer o produto de dois em dois dias.
Com o passar dos dias, a fermentação vai intensifica-se, começando a notar-se um odor um pouco desagradável. Isso é sinal de que o processo está a decorrer normalmente.
Quando
já não houver bolhas é sinal que parou a fermentação. Está pronto para
armazenar.
De seguida, côa-se bem a mistura, não devendo ficar vestígios da planta, pois isso pode diminuir a durabilidade do produto e tem também o inconveniente de poder entupir o bico do pulverizador.
Guarde em recipientes fechados em local fresco e sem luz solar. Pode utilizar garrafões de plástico da água engarrafada. Armazenado nestas condições pode durar até cerca de nove meses.
Algumas utilizações do chorume de urtigas:
Como inseticida - Para os pulgões (piolho), deixar macerar apenas 12 horas e aplicar puro sobre as plantas atacadas.
Como estimulante foliar - Diluído a 10% - 1litro de chorume para 10L de água.
Como estimulante do solo e raízes - Diluído a 20% -
Para favorecer a germinação das sementes – Mergulhe as semente por 30 minutos, no máximo, se for em extrato puro ou por 12 horas se for em extrato diluído a 20%.
Fiz um vídeo do meu primeiro fabrico de chorume de urtigas, em que utilizei garrafões para a fermentação, mas entretanto já fiz mais, limitando-me a colocar as urtigas num recipiente grande de plástico.
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