Em 25 de Janeiro de 1867, foi comprada por João Elisário de
Carvalho Montenegro uma fazenda no Brasil, situada em Espirito Santo do Pinhal,
município e comarca da cidade de Mogy-Mirim.
Na época da sua compra a fazenda tinha o nome de “Palmeiras”
e era composta por cerca de 200 alqueires de terreno (cada alqueire equivale a
24.200 m2), medida que transportada para a atualidade corresponde a 4.840.000
metros quadrados. Apesar de já ser uma área muito significativa, ou mesmo muito
grande, para os números com que estamos habituados a lidar, o certo é que
Montenegro comprou outros terrenos confinantes e, em Dezembro de 1872, a
fazenda tinha já 400 alqueires de terreno, ou seja 9.680.000 metros quadrados
de terras de boa qualidade para agricultura.
O principal ramo de atividade da fazenda era a cultura do
café, mas também lá, se faziam plantações de algodão, se criavam animais, se
produzia vinho e toda uma imensa variedade de produtos agrícolas como milho,
feijão, arroz legumes e farináceos.
Vista geral da colónia Nova Louzã. Foto da época do jornal Provincia de S. Paulo.
No seu livro Opusculo
sobre Nova Louzã, Montenegro descreveu assim a sua fazenda:
Esta fazenda acha-se
linda e vantajosamente situada no sopé de uma extensa e vistosa collina. Do
centro das casas corre uma rua em linha recta ao cafezal, que mede 150 braças,
orlada de ambos os lados de arvores fructiferas e arbustos. De um lado acha-se
a colina revestida d’uma linda vinha, que contém 5,000 pés de parreira ou
videira, e que no próximo anno deve duplicar o seu número. Da outra margem da
rua acha-se o terreno coberto de gramma, que serve de pastagem aos animaes da
fazenda.
A parte mais elevada
da collina acha-se coroada d’um extenso cafezal, e ao longe, como que servindo
de moldura a este pittoresco quadro, na montanha mais elevada da fazenda, vê-se
outro lindo cafezal circulado de majestosa floresta virgem, menos na sua base.
Em frente ás casas, na
extrema do terreiro, corre placidamente o ribeiro-Arouce,- cujas águas servem
de força motriz á machina de beneficiar algodão, aos moinhos, e aos monjollos…
Montenegro deu à fazenda o nome da sua terra natal, ao
ribeiro que lá corre o nome de um ribeiro da sua terra, contratou exclusivamente
trabalhadores oriundos da Lousã e estabeleceu com eles contratos de trabalho
com salário mensal, um sistema de salários justo, onde os trabalhadores tinham
os seus ganhos garantidos, enquanto noutras fazendas do Brasil ainda se usava o
sistema de parceria e outros sistemas de remuneração, sistemas que originavam
desconfiança entre patrão e empregados. Os trabalhadores de Montenegro tinham
um regulamento a cumprir, como é natural, mas tinham também um regime e
condições de trabalho mais favoráveis, não lhes faltando nada em relação a
alimentação, saúde e escola para os filhos e para os próprios trabalhadores.
Estive a pesquisar e a estudar a história de Nova Louzã, tendo
chegado à conclusão que Montenegro, visto por muitos como um filantropo e
também um visionário que estava muito à frente no seu tempo seria, nos dias de
hoje, passados século e meio depois da criação de Nova Louzã e tendo em conta
as condições de trabalho atuais, um patrão que muitos dos trabalhadores agrícolas
ou mesmo de outras profissões, certamente não desgostariam de servir.
A experiência de
trabalho livre de Nova Louzã, numa altura em que ainda existia a escravatura no
Brasil deixou uma marca muito positiva para futuras relações de trabalho e poderá
ter contribuído mesmo para o fim do regime esclavagista da época.
Apesar da história da colónia Nova Louzã se ter passado no
século XIX e da fazenda, tal como era, já não existir há muito tempo, Nova
Louzã não acabou. O nome da terra natal do comendador Montenegro continua a
fazer parte daquela região e certamente que irá perdurar para sempre.
Nova Louzã continua presente no mapa do Brasil
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