Só
depois de ter publicado no blogue alguns artigos sobre instrumentos de elevação de água antigos tomei conhecimento de uma bomba de fabrico mais ou menos
artesanal e que é muito popular na América, em África e também na Ásia. Na
Europa, e sobretudo em Portugal, penso que não é muito utilizada ou sequer
conhecida; eu pelo menos nunca tinha ouvido falar desse instrumento, até que um
dia o encontrei durante as minhas pesquisas na Internet e fiquei fascinado pela
sua aparente eficiência e facilidade de construção, tendo eu próprio resolvido
iniciar uma nova aventura lançando-me na construção de uma dessas bombas…
O
instrumento de que estou a falar é chamado de bomba de corda, pois ele eleva a
água por meio de uma corda onde são colocados várias peças circulares,
normalmente de borracha, mas também de outros materiais. Essa corda circula
dentro de um tubo com um diâmetro aproximado de 32 mm e faz subir a água com
a ajuda dos tais círculos de borracha que são impedidos de deslizar graças aos
nós que se dão na corda, junto às rodinhas de borracha ou pistões, como também
são designadas essas peças.
Esses
nós na corda fazem lembrar um rosário e por isso o instrumento também é
conhecido por “bomba rosário”, mas o que mais espanta nessa bomba é a sua rudimentaridade,
pois a sua construção é em grande parte feita com materiais de sucatas e onde velhas
bicicletas ou pelo menos uma roda de bicicleta é uma peça omnipresente. Não
obstante essa rudimentaridade a bomba consegue elevar a água de profundidades consideráveis
(fala-se em 35 a
40 metros )
e não sendo necessário um esforço desmesurado.
Antes
de iniciar a construção da minha bomba de corda fiz várias pesquisas, tendo
assistido a vídeos incríveis onde se viam bombas construídas das mais diversas
formas e com vários materiais. Eram movidas a pedal, à manivela, a vento, a
motor, mas todas elas com o mesmo utensílio de base: a corda. Todas elas
pareciam funcionar na perfeição, trazendo bastante água para cima e a
facilidade e baixo custo desses projetos, parecia convidar à sua construção.
Depois
de muito matutar decidi fazer uma bomba para elevar e transportar a água de um
pequeno poço da minha chácara, para um depósito colocado em cima de um telhado.
Desse modo poderei fazer algumas regas por gravidade, sem necessidade de
consumir qualquer combustível. A bomba funcionará movida por uma turbina eólica
de eixo vertical que será montada na torre onde estava instalado um cata-vento.
Depois
de iniciar os trabalhos depressa cheguei à conclusão que afinal a tarefa não
era assim tão fácil. Sendo certo que o princípio das bombas de corda (elevar a
água com uma corda através de um tubo) não pode ser alterado, a forma de fazer
o trabalho tem que atender às necessidades do construtor e a diversos fatores
específicos de cada um. À medida que o trabalho ia avançando iam surgindo novas
ideias e o projeto foi várias vezes modificado. Uma dessas alterações e a mais
importante é que decidi que a bomba não podia ser construída para ser movida
exclusivamente a vento, pois se o fizesse arriscava-me a ter de modificá-la
mais tarde ou então a enfrentar um possível fracasso, porque para além de não
ter a certeza de que a turbina eólica consiga fazer rodar a corda, poderão não
existir períodos de vento no verão suficientes para as necessidades de água
nessa altura.
Por
esse motivo resolvi fazer uma bomba de tração mista manual/eólica, ou seja:
quando não houver vento a bomba funcionará de forma manual, mas a prioridade é
para tentar fazer funcionar o instrumento através do vento.
Neste
momento a bomba já está a começar a funcionar no modo manual, encontrando-me a
fazer os primeiros testes. A maior dificuldade tem sido a de conseguir que a
roda de bicicleta que faz rodar a bomba no modo manual não patine na corda. Na
tentativa de conseguir maior aderência já testei vários métodos, estando agora
a roda a funcionar com um pneu de bicicleta invertido, no aro. Ainda não está
perfeito, mas a aderência já é suficiente para fazer subir a água no tubo.
Curiosamente se a tração for feita rodando a roda que vai servir de base à
turbina eólica, a aderência é muita boa, o que é positivo numa perspetiva de
tração pela força do vento.
A
bomba de corda que estou a construir foge um bocado dos padrões mais
tradicionais de utilização deste instrumento. Neste caso, não se trata
propriamente de elevar a água de um poço até à superfície, mas de a fazer subir
até uma altura de quatro metros e de a transportar para um depósito. O poço
também não é vulgar, pois trata-se de um reservatório de água da chuva com
apenas metro e meio de profundidade e para o qual transitam as águas dos outros
reservatórios da chácara. De qualquer modo a bomba terá de elevar a água cerca
de cinco metros o que significa que o seu trabalho não andará muito longe do
esforço feito por muitas destas bombas instaladas em poços e que sugam a água
apenas até à superfície.
Num
projeto artesanal deste tipo, como em muitos outros, as opiniões sobre a sua
construção e os materiais a utilizar nunca são totalmente consensuais o que
pode fazer suscitar algumas dúvidas que só a experiência adquirida com o trabalho
prático irá dissipar. Um exemplo dessa variedade de opiniões tem a ver com as
rodinhas de borracha ou os pequenos pistões que circulam dentro do tubo. Essas
peças minúsculas são de extrema importância para o funcionamento da bomba e,
para o seu fabrico, são apontados os mais diversos materiais como borracha de
câmaras de ar, tampas de garrafas, vedantes utilizados nos parafusos de fixação
de telhas, sola ou borracha de sapatos e chinelos, etc. Alguns fabricantes
dizem que os círculos de borracha devem ultrapassar um pouco o diâmetro interno
do tubo para evitar fugas de água durante a subida, o que parece ter alguma lógica,
mas que só funcionará se as borrachas forem muito finas. Assim a prática vem de
algum modo dar razão a outros que dizem que deve existir uma pequena folga para
diminuir o atrito. Foi isto que aconteceu comigo, pois comecei por deixar os
círculos de borracha maiores que o diâmetro do tubo, mas depressa verifiquei
que o atrito provocado, devido ao roçar no tubo, fazia com que a corda ficasse
muito pesada, dificultando o seu funcionamento. A solução foi cortar um pouco
as borrachas. Ainda sobre os círculos de borracha não existe uma opinião
generalizada sobra a distância a que devem ficar entre si, na corda; já li ou
ouvi que devem ficar a 40 ou 50
cm , mas também há quem diga que a distância ideal é
entre um metro e metro e meio. Na minha opinião quanto mais vastas ficarem
melhor, mas sem exagerar porque se ficarem muito perto umas das outras causam
mais transtorno na passagem pelas roldanas. Na minha bomba optei por colocá-las a
50 cm ,
com um nó de cada lado, mas depois decidi desfazer um nó ficando apenas um em
cada peça, o que fez com que a distância aumentasse para 60 cm .
Os
pistões são apenas um exemplo da variedade de opiniões que existem para fazer o
instrumento; as opções são muitas e a prática ditará quais serão as melhores.
Existem muitas outras coisas na bomba de corda que são passíveis de opções
muito diversas, como a roldana que fica submersa na água onde a corda faz a
volta para entrar no tubo de subida, o tipo de corda a utilizar, as roldanas,
etc.
Enfim,
a minha bomba de corda ainda está no início e, mesmo sendo um projeto que não é
totalmente original, ele tem algumas coisas que acho que são inéditas o que
torna a sua construção ainda mais apaixonante.
Caso
se interesse por engenhos artesanais e ecológicos acompanhe o blog “Candeia
verde”, ficando a par do desenvolvimento deste e de outros projetos do género.
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Nossa, cada vez faz algo mais interessante!
ResponderEliminarmuito boas as invençoes!
ResponderEliminarja que pode adaptar uma turbina eolica sera sepode ligar um motor a gasolina para funcionar essa bomba?
Seria possível fazer isso, sim. No entanto, acho que não faria qualquer sentido fazer isso porque a essência deste projeto é a preservação do meio ambiente e a sustentabilidade. Para trabalhar a gasolina existem os motores já com a bomba acoplada, ou moto-bombas.
EliminarAmigo vc tem a lista de materiais para o projeto?! Gostaria de tentar realiza-lo em minha propriedade, procurei em suas postagens mas ainda não encontrei, se possivel gostaria de mais informações, segue meu email, jj-1902@hotmail.com
ResponderEliminarDiga-me qual é o tipo de bomba que pretende construir. É simplesmente uma bomba de manivela, a pedal ou eólica? Se for simplesmente uma bomba manual o projeto é mais simples e, logicamente, os materiais são outros e em menor quantidade.
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