Patrões sem rosto


No início da minha carreira profissional, que aconteceu muitos anos antes da revolução de Abril de 1974, e também depois dessa data, quando trabalhava no duro em pequenas fábricas ou na construção civil, era costume os trabalhadores comentarem entre si que trabalhar em empresas onde não se conhecia o patrão é que era bom. Aludíamos às grandes empresas como CP, EDP, CTT etc. e também, claro está, ao Estado. Hoje, depois de ter prestado serviço não só nas pequenas empresas onde se conhece perfeitamente o patrão e é ele próprio quem dirige e labuta ao lado dos trabalhadores, mas também em organizações estatais, onde o patrão é uma figura abstrata que ninguém conhece, chego à conclusão surpreendente que, afinal, é melhor conhecer o patrão do que ser dirigido por intermediários, porque esses muito dificilmente irão atribuir valor a quem realmente o tem e o patrão vê com os próprios olhos o trabalho que cada um realiza, assim como o seu grau de competência. É por isso que no Estado por vezes se comenta em surdina e em calão que: “quem mais trabalhar, mais trabalhado fica”.

Andores em forma de barco


A Capela de Nossa Senhora da Boa Morte de Miranda do Corvo é um importante monumento cuja história remonta ao século XVI e onde, em 1732, foi instituída a Irmandade da Nossa Senhora da Boa Morte.

É na Capela da Senhora da Boa Morte que se inicia a maior manifestação religiosa do concelho, a Solenidade dos Passos do Senhor, que atrai milhares de pessoas a Miranda do Corvo, para uma manifestação de grande intensidade religiosa.

Esta Capela encontra-se isolada num adro da vila. Anteriormente terá lá existido a Capela de S. Cristóvão, de que subsiste documentação provando a sua existência em 1576. Houve igualmente, à sua frente, um adro com um cruzeiro com o nome do mesmo santo. Lá se enterravam os que, sendo de fora da freguesia, nela pereciam, o que levou a que chamassem aquele adro “pátria dos peregrinos”.

No século XVIII esta era a maior Capela da vila e por esse motivo quando na igreja paroquial não era possível celebrar o culto, vinham temporariamente as funções paroquiais para S. Cristóvão. Assim em 1709, havendo necessidade de levar a cabo obras na Matriz, as missas diziam-se em S. Cristóvão. Em 1767, pensou-se em construir uma nova igreja matriz, porque a que existia estava muito arruinada. Chegou a elaborar-se um projeto de alargamento da capela de S. Cristóvão, para a sua transformação em matriz, mas a ideia não foi, porém, avante.

Em 1785, quando se demoliu a velha igreja matriz, a capela de S. Cristóvão voltou a ter funções paroquiais, até se fazer a nova matriz que atualmente existe. Estas razões da sua importância serviram até para que se retirasse do adro e das proximidades, a feira semanal que aí se fez até 1775: nesse ano a Câmara e os moradores forçaram para que fosse mudada para a praça sobranceira ao rio e, entre as alegações, aparece a da “indecência considerável” que o mercado representava para a celebração do culto na capela, especialmente nas primeira quartas-feiras do mês, em que a afluência de gente e o burburinho correspondente se contrapunham à seriedade e compostura dos actos religiosos.

A Guerra Peninsular trouxe graves consequências para a região e a capela foi queimada pelos franceses durante a 3ª Invasão. Por esse motivo esteve em obras até 1838, ano em que se fez novo compromisso com a Irmandade, por ter ardido o anterior, e se pediu aprovação régia. A construção atual pertence à segunda metade do séc. XVIII, altura em que a capela muda de patrono.

A entrada para o recinto da capela. O contorno ligeiramente arredondado dos
dos muros tem a forma de um barco.

O espaço envolvente da capela é curioso, acreditando-se que os muros envolventes relembram, intencionalmente, uma barca. Tal facto poderá estar ligado à invocação atual da capela – a Boa Morte – relegando-nos para a travessia que é necessário fazer após a morte. Episódio bastante retratado, por exemplo, no teatro vicentino (Auto da Barca do Inferno).

De facto, a configuração dos muros tem alguma semelhança com a forma de uma barca, exceptuando, talvez, a parte da frente que corresponderia à proa, que não termina em bico. No entanto segundo informações que obtive de um responsável da capela, antigamente os muros terminavam mais à frente até que foram cortados devido ao alargamento das ruas envolventes. Poderá ser essa a explicação para a forma atual da entrada para o adro que simbolicamente corresponde à “proa da barca”.

Andor de Nossa Senhora da Boa Morte, em forma de barco.

Esta configuração do espaço da capela em forma de barca, deverá estar relacionado também com o andor em que a imagem de Nossa Senhora da Boa Morte é transportada nas procissões que são realizadas de dois em dois anos, no dia 15 de Agosto. O andor é em forma de barco, o que parece atestar a ligação entre a forma da construção dos muros envolventes da Capela e a crença da travessia que todos temos que fazer um dia.

Miranda do Corvo não tem qualquer ligação ao mar e por esse motivo ver a imagem de Nossa Senhora deitada num barco teria forçosamente de ter uma explicação, parecendo-nos ser esta a mais lógica e que é aliás a explicação contida num folheto editado pela Câmara Municipal.

Existem muitas imagens de Santos que, nas procissões, são transportados em
andores em forma de barco. Um deles é o Apóstolo e primeiro bispo de Roma:
Pedro.  Na imagem o andor de S. Pedro na procissão da Afurada/Vila Nova de Gaia
Foto: Blog "Depois de um dia".

Não é incomum o transporte em procissões de santos em andores em forma de barco, mas tem quase sempre a ver com populações de pescadores ou também com imagens de Santos intimamente ligados ao mar. Por isso a Capela de Nossa Senhora da Boa Morte, com a sua forma envolvente em forma de barco e o andor que tem a mesma forma é sem dúvida muito original e pode causar alguma admiração a quem não conheça a história da Capela.

Fonte consultada:
Folheto da Câmara Municipal  sobre a história da Capela de N. S. da Boa Morte. 

Motores de rega

Motobomba de 1 polegada.
Agora que os antigos engenhos para rega, que ainda existem instalados nos poços de pequenas propriedades, na sua grande maioria já não funcionam, quem quer ter a sua horta e cultivar as suas batatas, couves, etc., tem de recorrer, inevitavelmente, a um motor de rega, seja ele eléctrico ou de combustão, pois elevar a água com uma picota, cegonha ou gaivota aqueles instrumentos arcaicos de que já falei neste blog, parece, nos tempos que correm, um exercício demasiado violento e pouco produtivo. Os sistemas eólicos por outro lado são demasiado caros e certamente não compensaria a sua instalação para regar apenas uma pequena horta, a não ser que alguém com habilidade consiga construir um. No blog estão também alguns artigos que mostram como isso poderá ser feito, mas, sem qualquer dúvida, os motores de rega são os sistemas mais utilizados.

O fim do Hospital da Marinha


Começa assim um artigo de quatro páginas publicado no nº 477 da Revista da Armada, sobre o Hospital da Marinha:
O Hospital da Marinha, que foi uma referência viva de todos os marinheiros,  já não existe.
Foram 216 anos de bons serviços prestados à Marinha, ao País, na sua dimensão pluricontinental, e à Medicina Portuguesa, pelo seu pioneirismo e contributo em vários domínios e prestígio dos seus profissionais.
No final, parafraseando o Padre António Vieira, o Hospital da Marinha fez o que devia e a Pátria o que é costume: esqueceu-se de lhe agradecer! Faz agora parte da História.

Bebedouro para aves

O “Meio Século” tem o prazer de apresentar hoje mais um projeto caseiro do seu autor, uma ideia nova e completamente original.

Perante esta entrada o leitor poderá ser levado a pensar que se trata de bazófia, pois daqui ninguém espera que possa sair alguma invenção que venha a revolucionar o mundo como, por exemplo, um inovador sistema de construir pontes, ou a descoberta de um novo combustível… Eu bem gostaria, mas não!... Não se trata de nada disso, nem sequer de uma simples e tosca capoeira sem telhado…mas também não é fanfarronice, que isso aqui não existe.

Mas, já que falei em capoeira, acrescento que é um projeto com alguma ligação a tal, pois se trata, nem mais nem menos, do que um bebedouro para aves. O tempo que mediou entre o nascimento da ideia e a sua conclusão não demorou mais do que duas horas, o que parece dizer bem da insignificância do projeto. Isso não significa, contudo, que não seja algo com alguma utilidade. Apesar de ter sido posto a funcionar a apenas algumas horas, pelo que já vi, o bebedouro funciona na perfeição e acredito que me vai poupar algum trabalho, não só no seu abastecimento de água, mas também na sua limpeza, tarefas que para além de ficarem facilitadas, se tornam também mais higiénicas.

Este bebedouro, que pode ser construído nas dimensões que cada um queira, de acordo com o número de aves que irá servir pode, eventualmente, ser usado também por outros animais, como cães, porcos ou ovelhas, embora neste caso particular tenha sido concebido para aves e, mais concretamente, galinhas.

Criação de marrecos

Os marrecos não possuem as carúnculas
 (verrugas vermelhas) sobre o bico e em torno
 dos olhos, características dos patos.
Depois de já ter escrito no blog sobre criação de patos, venho neste artigo escrever sobre marrecos. É certo que muita gente confunde patos com marrecos e vice-versa, eu próprio considerava os marrecos como sendo patos, mas a verdade é que não é bem assim. É certo que são aves aquáticas com muitas semelhanças e por isso são facilmente confundidos. Criadores experientes sabem distinguir uma espécie da outra por vários motivos, mas apontam as carúnculas (verrugas vermelhas) sobre o bico e em volta dos olhos como a característica mais visível para especificar o pato, além do fato de a ave ser mais alongada. Já os marrecos são mais compactos e definidos, o que pode facilitar a padronização dos exemplares.
  
Os marrecos são aves mais rústicas e precoces, até mesmo do que as galinhas. Consomem uma quantidade maior de alimentos, mas exigem instalações simples, menores e consequentemente mais económicas.

História dos motores Lombardini

Nas zonas rurais circulam lentamente milhares de pequenos veículos com reboque de caixa aberta. Esses veículos a que muitos chamam “trotinetes”, são utilizados por pequenos agricultores para o amanho das terras e para fazer o transporte dos mais diversos produtos. Trata-se de pequenos tratores agrícolas que são designados por motoenxadas e motocultivadores, sendo que a maior diferença entre eles relaciona-se com o funcionamento das fresas, uma vez que no motocultivador o sistema de fresagem é engatado à máquina e ligado a um veio do motor que lhe transmite as rotações. Na motoenxada, as fresas ou, mais corretamente, as enxadas, são montadas em substituição das rodas e a maquina revolve a terra, operada com firmeza pelo agricultor que tem de a manobrar de modo a que as lâminas girem com velocidade e façam ao mesmo tempo deslocar a máquina. É um trabalho que é feito apeado e que exige muito esforço e atenção do operador, mais difícil do que a mesma manobra feita com o motocultivador, mas que permite uma cava mais profunda da terra.

A maioria dessas pequenas máquinas, pelo menos as mais antigas, são equipadas com motores da marca Lombardini e a opinião corrente é que esses motores são muito resistentes, o que fica provado perante a dureza do trabalho a que são obrigados, quando em trabalho de fresagem e também em serviço de transporte, suportando cargas pesadas em terrenos difíceis. Perante o tamanho da máquina, a quantidade de trabalho realizada é muito elevada.

Ferramentas agrícolas motorizadas - A motoenxada




No artigo anterior destaquei a importância da motosserra. Neste vou escrever  sobre a motoenxada, outra ferramenta motorizada de extrema importância na ajuda em trabalhos agrícolas de pequena dimensão. No trabalho que a foto documenta estas duas ferramentas são essenciais.